Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

O Lenhador disse a Sucuri: Vou dar uma saída. — Não passa perto do serrote, ouviu? Ele pode te machucar.
Mas foi só ele dar as costas.
— Que diabo tu tem bicho? Perguntou a Sucuri, e o Serrote não respondeu. Ê bicho feioso! Que diabo é que tu tem que eu não posso passar perto de tu! Insistia ela. — Tu mete medo no homem? Mas comigo é diferente!
O serrote, mudo, reluzia quieto sob a luz do sol.
A cobra se aproximou devagar com a língua bifurcada dançando no ar. — Tu é perigoso, é? Hein? Por que ninguém pode nem chegar perto de tu? Nada. O serrote seguia calado.
Então se aproximou e tocou de leve com a calda. — Vai me morder, é?
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O serrote escorregou da árvore que estava escorado e caiu no chão com um barulho seco. Assustada, a Sucuri achou que o Serrote estava atacando ela e se enrolou toda tentando impedi-lo. — Ao apertar sua lâmina afiada, sentiu a primeira dor rasgar a barriga.
Ela gritou. E a dor acendeu o ódio. — Ah, miserável! Tu quer guerra? Pois vai ter guerra!
Furiosa, começou apertar. Cada volta, um corte. Cada aperto, mais sangue. Quanto mais apertava, mais se feria. Quanto mais doía, mais raiva sentia. E quanto mais raiva, mais apertava.
Até que já não conseguia mais respirar. Até que o próprio corpo já não obedecia. Até que o chão ficou vermelho, e o ódio virou cansaço.
Agora o dano em seu corpo era irreparável. Chorando olhava para o Serrote dizendo: o bicho esquisito que mete medo no homem e mete medo na cobra por que tu fizestes isto? E o Serrote continuava calado.
Quando o Lenhador voltou encontrou a sucuri estendida no chão, ofegante, o corpo todo ferido, manchado de sangue e arrependimento.
— Eu… eu não fiz nada com ele e ele me matou… — Ela murmurou, a voz quase sumindo. — Eu não imaginava que ele era tão perigoso.
O homem ajoelhou, olhou pra ela nos olhos e respondeu com calma:
Ele não é perigoso. O perigo nunca foi o serrote. O perigo sempre foi sua curiosidade.
Escritor Isaías Bastos