Quase 150 crianças, adolescentes e jovens morreram devido a lesões autoprovocadas entre 2023 e 2024. No Brasil, o estado de São Paulo é o que mais concentra casos
Por Malu Vieira, g1 BA

Entre 2023 e 2024, 143 crianças, adolescentes e jovens entre 10 e 19 anos morreram devido a lesões autoprovocadas na Bahia. Os dados divulgados na segunda-feira (22) fazem parte de uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Pediatria, com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, e mostram que o estado tem os piores índices do Nordeste quando o assunto são os óbitos por autolesões.
Os registros foram feitos por profissionais que atendem adolescentes nessas condições e que devem, obrigatoriamente, seguir o protocolo de notificação.
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De acordo com Cefas Gonçalves Pio de Oliveira, pediatra especializado em atendimento a adolescentes e vice-presidente da Sociedade Baiana de Pediatria, nem todo jovem que comete autolesões tem a intenção de tirar a própria vida. Porém, a ausência do diagnóstico e de acompanhamento psicológico pode fazer o quadro evoluir para uma tentativa de suicídio no futuro.
“Esse paciente tem maior chance de cometer suicídio no futuro. Precisamos ficar atentos a como detectar as autolesões, porque muitas vezes eles não chegam no consultório com essa queixa”.
No nordeste, foram 616 casos de óbitos provocados por autolesões em 2023 e 2024. Bahia, Pernambuco e Ceará são os três estados da região com os maiores números de casos.
Óbitos por lesões autoprovocadas na Região Nordeste
Estado | Número de casos entre 2023 e 2024 |
Bahia | 143 |
Ceará | 110 |
Pernambuco | 88 |
Maranhão | 72 |
Rio Grande do Norte | 46 |
Piauí | 46 |
Paraíba | 44 |
Alagoas | 38 |
Sergipe | 29 |
Total | 616 |
Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria
Como identificar casos de autolesões
O pediatra conta que os adolescentes costumam chegar no consultório acompanhados dos familiares e com outras queixas de saúde, a exemplo de dor de cabeça. Durante a consulta, ao perceber sinais de autolesão, é orientado que a família procure um psicólogo e um psiquiatra para dar andamento ao tratamento.
Brasil tem uma tentativa de suicídio ou autolesão entre adolescentes a cada 10 minutos
Segundo a psicóloga Ana Paula Carregosa, pessoas leigas costumam classificar as autolesões como uma “forma de chamar atenção”. Mas, para esses adolescentes, o ato funciona como estratégia compensatória para lidar com situações de conflito.
“Pode funcionar como uma autopunição, como como uma forma de regular uma sensação ou sentimento desagradável e até como um pedido de ajuda”.
Neste contexto, alguns sinais podem ser observados pelos familiares e amigos:
- uso de casacos mesmo no calor;
- marcas de queimaduras e arranhões no corpo;
- mudanças de comportamento de forma abrupta.
Ao perceber as lesões, é importante estabelecer uma comunicação acolhedora com o adolescente, validando seus sentimentos e demonstrando preocupação com a situação. “Não é indicado conversar de forma punitiva ou invasiva, é preciso acolher esse adolescente”, ressaltou a psicóloga.
A importância da terapia

Na terapia, o adolescente vai ser acolhido pelo profissional e vai poder conversar de forma aprofundada sobre o que o leva a provocar a autolesão.
“A terapia vai proporcionar educação emocional, estratégias para manejar crises e aumento do repertório de habilidades sociais. Ele vai aprender como lidar com sensações e sentimentos desagradáveis de forma saudável”, pontuou a psicóloga.
Além disso, a especialista destaca a importância dos familiares envolvidos na criação do adolescente também serem acolhidos nesse processo, afinal, assuntos como ansiedade e depressão começaram a ser abordados recentemente e muitos desses adultos não tiveram acesso à educação emocional.
Para Ana Paula, a família deve ser um ponto de apoio e trabalhar junto com o adolescente em prol da melhora da saúde mental.