Maioria das vítimas são médicas e enfermeiras que namoraram com suspeito nos últimos 10 anos. Profissional foi afastado por três meses pela Secretaria de Saúde (SMS)
Por g1 BA e TV Bahia
Subiu para oito o número de profissionais de saúde que denunciaram o médico peruano Luís Gonzalo Velarde Acosta, de 38 anos, pelas práticas de violência física, psicológica, virtual e patrimonial, além de assédio. O suspeito atua no Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) de Salvador desde 2018 e foi afastado das atividades por três meses, enquanto as denúncias são investigadas.
Todas as vítimas são profissionais de saúde (médicas ou enfermeiras). Sete delas tiveram relacionamentos afetivos com o homem nos últimos anos e uma o denunciou por assédio.
A TV Bahia apurou que três denunciantes têm medidas protetivas contra Luís Gonzalo, duas se afastaram do trabalho por medo de trabalhar com o médico, uma tenta o afastamento e outras duas continuam no serviço.
Ao ouvir as denúncias de ex-companheiras no programa Bahia Meio Dia, na segunda-feira (27), uma outra médica resolveu falar sobre agressões que sofreu enquanto teve um relacionamento com o profissional.
No início do namoro, segundo a mulher, que preferiu não revelar a identidade, Luís Gonzalo era amoroso e tratava bem os amigos e familiares dela. No entanto, depois, passou a ter um comportamento agressivo.
____________
“Ele começou a gritar e falar mais alto. Seguiu com empurrões, puxões de cabelo, mordidas, beliscões, murros e asfixia. Por duas vezes, quase me matou”, relatou.
____________
A médica disse ainda que o homem também praticava violência psicológica e deu prejuízos financeiros que ficaram em torno de R$ 20 mil.
“[Ele falava] ‘Você é uma burra, sem cultura, rodada, inepta, retardada, vai matar seus pacientes’. Ele diminui você, sua família, suas conquistas”, lembrou.
Uma outra médica também relatou ter emprestado dinheiro para o médico e não ter recebido os pagamentos.
“Teve um episódio que me marcou, que foi quando eu estava dando plantão em uma UPA, e ele estava dando plantão em uma base do Samu anexa a essa UPA. Ele entrou no meu consultório, disse que precisava conversar comigo, que ficava até sem graça de pedir uma coisa dessas, mas que ele precisava de R$ 1 mil emprestado”, contou.
Após os pedidos de empréstimos, a mulher conversou com outros colegas de trabalho, descobriu que ele já tinha pegado dinheiro emprestado com outros funcionários e não tinha feito os pagamentos. Com isso, resolveu se afastar.
Em 5 de dezembro de 2024, Luís Gonzalo foi afastado por três meses pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). As denúncias foram encaminhadas para análises da Procuradoria Geral do Município (PGM).
Mais de um mês depois, a PGM sugeriu que caberia à chefia médica do Samu o cumprimento das medidas protetivas no ambiente de trabalho e que ao invés da suspensão total do contrato, fossem adotadas medidas que permitissem o exercício de trabalho de Luís Gonzalo, evitando contato com as vítimas.
Com isso, as denunciantes passaram a temer o retorno do médico aos trabalhos. No último final de semana, um manifesto foi encaminhado para a SMS.
____________
“Quando eu soube que ele poderia voltar, me senti agredida novamente e voltei a ter crises de ansiedade. Hoje, tenho medo de sair de casa e não voltar”, afirmou uma médica que denunciou agressões e ainda trabalha no Samu.
____________
No documento, as profissionais do Samu pediram apuração das denúncias e que sejam tomadas medidas cabíveis para que elas possam desempenhar os trabalhos delas em ambiente seguro, respeito e sem riscos à integridade física e psicológica.
____________
“Solicitamos o afastamento do profissional, em consonância às medidas protetivas, de forma preventiva, até que se tenha processo em transitado e julgado”, diz ainda parte do documento.
____________
A defesa do médico disse à TV Bahia que só tem conhecimento da denúncia de uma ex-companheira do cliente. Afirmou ainda que as reclamações são mentirosas, feitas para manchar a imagem de Luís Gonzalo.
Em nota, a SMS reafirmou a decisão de afastamento do profissional, disse que não foi acionada pela Justiça para adotar medidas protetivas, mas ainda assim optou por afastar o médico após receber as denúncias.
Questionada sobre a recomendação do retorno do médico ao trabalho, o órgão afirmou que respeita o exercício da ampla defesa do contraditório, uma vez que ainda vai ocorrer o julgamento e a finalização da investigação, mas destacou que o que segue válido é o afastamento do profissional.
A TV Bahia também procurou o Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb) para saber o histórico profissional do médico, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.