Co-fundador do Clube da Esquina, Lô Borges inovou na MPB

FONTE: Thales de Menezes/Folha de S.Paulo

Artista estava internado após uma intoxicação medicamentosa

Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

O cantor e compositor Lô Borges, em São Paulo – Foto: Jorge Araújo (28.06.88) / Folhapress

Morreu na noite deste domingo (2) o músico e compositor Lô Borges, um dos nomes mais inventivos da MPB das últimas décadas e um dos formadores do Clube da Esquina, em Belo Horizonte. A informação foi confirmada pelo hospital Unimed de Contorno, onde ele estava internado. O cantor morreu de falência de múltiplos órgãos.

Em agosto, Lô Borges exibia uma produtividade incomum para um cantor e compositor de 73 anos. Ele lançou o álbum “Céu de Giz”, com músicas dele e letras de Zeca Baleiro, simplesmente o sétimo disco de canções inéditas gravado por ele nos últimos sete anos.

Diante de tanta disposição, seus fãs foram pegos de surpresa com a internação do cantor mineiro, no dia 17 de outubro, devido a uma intoxicação medicamentosa, segundo os boletins do hospital causada por remédios tomados em casa. Depois, no dia 25, passou por uma traqueostomia e estava respirando com ajuda de aparelhos.

Salomão Borges Filho nasceu em 10 de janeiro de 1952, em Belo Horizonte. Ainda adolescente, nos anos 1960, passava a maior parte do tempo com os amigos, tocando violão em rodas que privilegiavam o repertório dos Beatles, o grupo predileto de todos. Essa relação evoluiu para a formação do que se chamou Clube da Esquina, um movimento musical que integrava influências de música mineira, rock, samba e até uma pitada de psicodelia.

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Entrevista com Lô Borges para a colunista Mônica Bergamo – Foto: Lucas Seixas/Folhapress

No time, além de Lô estavam seu irmão Márcio Borges, que ao lado de Fernando Brant e Ronaldo Bastos era um dos letristas da turma, os cantores e compositores Beto Guedes e Flávio Venturini, o guitarrista Toninho Horta, o pianista e arranjador Wagner Tiso e o baixista Novelli. À frente do grupo, Milton Nascimento, que já gravava discos individuais e tinha um sucesso nacional, a canção “Travessia”.

“Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo”, escreveu Milton nas redes sociais, na manhã desta segunda (3). “Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos”.

Em 1972, Lô Borges e esse pessoal colaboraram com Milton Nascimento no álbum seminal “Clube da Esquina”, que se tornaria um marco incontornável da música popular brasileira. Muito jovem, com 20 anos, Lô impressionou bastante o pessoal da gravadora e, segundo gostava de relatar, chegou desesperado para contar a Milton que tinha assinado um contrato para um disco solo.

Neste século, seguiu lançando álbuns, colaborando e revisitando seu catálogo, mostrando que a criatividade não se esgotou com o tempo. Musicalmente, ele é reconhecido por fundir estilos: a base da música popular brasileira, com samba, bossa nova e música mineira de raiz, dialoga tranquilamente com o rock e o jazz.

Sua participação no Clube da Esquina, a originalidade de seu primeiro álbum solo e a continuidade de sua produção fizeram dele uma figura central para se entender a música mineira, a MPB e as relações entre música popular e experimentação no Brasil. Há tempos, ele foi e segue sendo referência para músicos mais jovens, que buscam explorar suas raízes musicais com olhar contemporâneo.

Foto de Juvenal Pereira mostra, da esq. para a dir., Lô Borges, Duca Leal, Márcio Borges e Milton Nascimento, do Clube da Esquina, em Diamantina, Minas Gerais

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