Música ficou conhecida pela abertura de ‘Os Normais’
Por Folha de S.Paulo
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Morreu, aos 85 anos, o cantor Lindomar Castilho, que recebeu o apelido de rei do bolero ao fazer imenso sucesso entre as décadas de 1960 e 1980. A informação foi confirmada por sua filha, Lili de Grammont, em suas redes sociais. A causa da morte não foi divulgada, mas ele havia sido recebido diagnóstico de Parkinson há mais de uma década.
“Meu pai partiu! E como qualquer ser humano, ele é finito, ele é só mais um ser humano que se desviou com sua vaidade e narcisismo. E ao tirar a vida da minha mãe também morreu em vida. O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira”, escreveu ela na publicação.
Voz de “Você É Doida Demais”, tema de abertura da série “Os Normais”, estrelada por Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães na Globo, Castilho tem em seu repertório canções como “Eu Vou Rifar Meu Coração”, “Minha Mãe, Minha Heroína” e “Ébrio de Amor”.
Castilho caiu no ostracismo após assassinar a ex-mulher, a cantora e compositora Eliane de Grammont, em 1981. À época, foi condenado a 12 anos de prisão. O caso é até hoje um dos feminicídios de maior repercussão do país.
“Somos finitos, nem melhores e nem piores do que o outro, não somos donos de nada e nem de ninguém”, escreveu ainda Lili, ao lado de duas fotos em que aparece mais jovem junto a Castilho. “Assim me despeço do meu pai, com a consciência de que a minha parte foi feita com dor, sim, mas com todo o amor que aprendi a sentir e expressar nesta vida.”
“Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser, um ser complexo e em evolução. Diante de tudo isso, desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada. […] Pai, descanse e que Deus te receba, com amor… E que a gente tenha a sorte de uma segunda chance”, encerrou a filha.
Foi uma das vozes mais populares da música romântica brasileira e, mesmo depois do crime, tentou, sem muito sucesso, retomar a carreira, no fim dos anos 1990.

Nascido Lindomar Cabral, em Rio Verde, Goiás, o músico começou a carreira ainda jovem, depois de ser ouvido pelo diretor de uma gravadora — estudante de direito, ele tinha hábito de se apresentar em saraus e pequenos eventos. Seu primeiro álbum veio no começo da década de 1960, “Canções que Não Se Esquecem”. Nele, abusava do sentimentalismo que pautava as rádios da época.
O nome artístico veio como sugestão de Diego Mulero, diretor de gravadora que pensou na projeção de Castilho para o mercado latino-americano. Ao longo da primeira década de carreira, gravou faixas como “Falhaste Coração”, uma versão em português de um bolero mexicano, e o álbum “Mensagem de Carinho”, que o consagrou.
Nos anos 1970, troca a gravadora Continental pela RCA e vende 500 mil cópias de “Eu Vou Rifar Meu Coração”. Vem, então, um de seus maiores sucessos, “Você É Doida Demais”, que ocupa o topo das paradas musicais. “Eu Canto o que o Povo Quer” é outro hit do período, que ganhou tração fora do Brasil, bem como “Feiticeira” e “Nós Somos Dois Sem Vergonha”.
O enorme sucesso, porém, foi refreado pelo assassinato de sua ex-mulher. Castilho e Eliane de Grammont se conheceram em 1977, na gravadora RCA, quando ele já era o rei do bolero, mas ela ainda dava os primeiros passos na carreira musical. Casaram-se no ano seguinte e, por exigência do marido, a artista havia se afastado do ofício para se dedicar ao lar e à filha do casal.
Foram cerca de dois anos de um casamento conturbado, marcado pelo alcoolismo, ciúmes e as agressões de Castilho. Aos 25 anos, Grammont decidiu se separar, a contragosto do músico, e retomar a carreira, tocando ao lado de Carlos Randall. Durante uma apresentação, em 30 de março de 1981, Castilho entrou no Café Belle Epoque, no centro de São Paulo, e deu cinco tiros de revólver na ex-mulher. Randall também foi ferido, mas tentou socorrer Grammont na ocasião, que morreu a caminho do hospital.
Castilho foi preso em flagrante, mas respondeu em liberdade por ser reu primário. A filha do casal ficou sob a guarda dos avós maternos, e Castilho visitava a filha nesse período.
O julgamento do caso só ocorreria em 1984, três anos depois do crime, e mobilizou ativistas em frente ao Tribunal de Justiça de São Paulo, na Praça da Sé, contra o feminicídio. Na ocasião, a defesa do músico tentou justificar o crime afirmando que Grammont era uma mulher e mãe negligente, e que o cantor teria sido tomado por violenta emoção.

O artista foi condenado a 12 anos e dois meses de prisão. Metade do tempo foi cumprido em regime aberto. Com a liberdade, em 1996, veio também a tentativa de retomar a carreira, com o disco “Muralhas da Solidão”, concebido ainda na penitenciária.
Morreu no ostracismo, após ver seu sucesso no Brasil e no exterior, e os cerca de 30 discos lançados ao longo da carreira, serem ofuscados pelo assassinato.
Uma de suas últimas aparições foi como entrevistado do documentário “Vou Rifar Meu Coração”, de 2011, batizado em homenagem ao seu hit, sobre a música brega no Brasil, ao lado de nomes como Agnaldo Timóteo, Wando, Amado Batista e Nelson Ned. Na ocasião, Castilho só aceitou dar a entrevista com a condição de que não fosse questionado sobre o crime que cometeu.
Castilho deixa a filha que teve com Eliane, Lili de Grammont. O velório acontece neste sábado (20), às 13h, no Cemitério Santana, em Goiânia.












