O Velho Motta era uma figura conhecida que perambulava entre Bonfim e Monte Santo, durante as primeiras décadas do século passado. Diziam que tinha mais de cem anos, mas nem ele mesmo sabia sua idade, respondia apenas que na seca de 1860 já batia o bró do licuri e dava comida ao gado.
Em uma de suas andanças pelas caatingas, de passagem pela Fazenda Pontilhão do Campo do Meio (próxima a atual Igara), encontrou a equipe do jornal A Noite, que realizava uma série de reportagens sobre os ataques de Lampião e seu bando na região de Senhor do Bonfim. Questionado para onde iria, o velho dizia ir para as “Piabas” avisar a seu “Yoyô” que o gado estava sendo roubado. A Fazenda Piabas pertencia aos filhos do ex governador José Gonçalves da Silva, de quem provavelmente o Velho Motta foi escravo.
Quando perguntado se ele gostaria de tirar uma fotografia, foi filosófico ao responder: “Não, seu moço. Isso não. Retrato meu é que a terra não há de ver. Quem morre desaparece. E depois de morto, eu que não quero ficar para ninguém estar me vendo”. Mas, sua recusa durou o tempo de ouvir o tilintar de algumas moedas oferecidas pelo repórter, então deixou a foto ser tirada pelo fotógrafo bonfinense João Batatinha, que acompanhava a equipe do periódico carioca.
Logo depois partiu para continuar sua jornada e de lá ninguém soube mais para onde foi. Possivelmente estaria agora na estrada do esquecimento, mas seu retrato ficou para se ver e hoje, o Velho Motta continua sendo o andarilho, agora nas memórias do sertão.
Foto: João Batatinha
Fonte: A Noite – Maio/1931