Por Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

Em tempos em que o São João se vê cercado por interesses comerciais e modismos passageiros, é preciso dar voz a quem carrega no peito, nos dedos e na alma a verdadeira essência dessa festa tão nordestina. Com 55 anos de estrada, o sanfoneiro, cantor e compositor Sérgio do Forró abre o coração em uma emocionante carta aberta.
Mais do que um desabafo, é um grito de resistência em defesa do forró, do baião, do xote e de toda a riqueza cultural que constrói a identidade do nosso povo. Uma leitura necessária para quem ama o Nordeste, sua história e suas raízes.
Confira abaixo a carta na íntegra e compartilhe essa mensagem de amor à cultura nordestina.
Carta aberta de Sérgio do Forró
Sou Sérgio do Forró, sanfoneiro, cantor e compositor há 55 anos. Tenho dedicado minha vida à divulgação e preservação da nossa amada cultura nordestina. Com minha sanfona, tenho percorrido esse sertão de meu Deus, toco em praças e palcos, levando alegria, identidade e tradição ao povo o ano todo e especialmente nas festas de São João.
Escrevo com o coração apertado, como nordestino e artista, diante do que venho presenciando nos últimos anos. As grandes festas juninas — que sempre foram a expressão mais viva da nossa cultura — estão perdendo espaço para atrações que pouco ou nada têm a ver com a verdadeira essência do São João.
Não é só uma reclamação por espaço, é um pedido por respeito. O forró, o xote, o baião, o arrasta-pé, a sanfona, o triângulo e a zabumba não são apenas estilos musicais: são memória, são história, são resistência. São João é a alma do povo nordestino e não pode ser descaracterizado em nome do lucro ou da moda passageira.
Nós, artistas da terra, não pedimos privilégios, pedimos pertencimento. Que os palcos do São João continuem sendo ocupados por quem carrega essa tradição com amor deixada pelo rei do baião Luiz Gonzaga. Que os produtores de eventos, as autoridades públicas e os produtores culturais tenham sensibilidade e responsabilidade com essa herança.
Se deixarmos morrer o verdadeiro São João, estaremos perdendo mais do que uma festa. Estaremos apagando parte da nossa identidade.
Eu continuarei a tocar minha sanfona enquanto eu tiver forças e até o sol “raia” e por isso deixo aqui esse humilde apelo: não deixem essa tradição morrer. Respeitem o forró. Valorizem o artista nordestino. O São João é do povo, é da cultura, é do coração do Nordeste.
Com respeito e esperança, Sérgio do Forró!