Time do Jacobinense integra ‘lista suja’ do Ministério do Trabalho e Emprego na Bahia

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Ex-prefeito baiano e garimpos também fazem parte da lista

Blog do Eloilton Cajuhy

MTE tem lista com nomes de empregadores que respondem a processos por manterem funcionários em condições análogas à escravidão — Foto: Divulgação

O time de futebol Jacobinense, o ex-prefeito de uma cidade no interior da Bahia, fazendeiros e diversos garimpos integram a “lista suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na Bahia. O documento reúne nomes de empregadores de todo o Brasil que responderam ou respondem a processos administrativos por manterem funcionários em circunstâncias semelhantes à escravidão.

A última atualização da lista foi feita na segunda-feira (7) e recebeu 176 novos nomes de pessoas físicas e jurídicas. Ao todo, a relação conta com 727 mencionados, dos quais 66 são de cidades baianas.

A maior parte dos registros está concentrada nas regiões norte, sul, oeste do estado, além de cidades de maior porte como Salvador e Feira de Santana. Entre os citados estão 31 fazendeiros, uma empresa de segurança privada, uma carvoaria e 24 residências. Nas casas, são trabalhadores domésticos os prejudicados.

Entre patrões que mantiveram pessoas em situação análoga à escravidão nas residências está Melina Esteves França, que voltou a ser investigada em inquérito policial por agredir a babá Aline Rodrigues de Brito, de 28 anos, em agosto do ano passado, em Salvador. Dois anos antes, ela já havia sido alvo de investigação por ter mantido outra funcionária em condições análogas à escravidão.

Ainda segundo o órgão federal, na Bahia pelo menos 271 pessoas que eram mantidas nessas condições foram resgatadas nas ações entre 2019 e 2024. Um dos resgates mais recentes foi há dez dias, em um navio de empresa norueguesa ancorado na baía de Todos-os-Santos.

Trabalhadores são resgatados em condições análogas às de escravizados em navio de empresa norueguesa ancorado na Bahia — Foto: Divulgação/SRT-BA

Outro registro envolve o time de futebol Jacobinense, que disputou a série B do campeonato baiano deste ano e foi rebaixado. Em junho de 2022, cinco adolescentes foram resgatados no alojamento da equipe no bairro de Cajazeiras, em Salvador. O g1 tenta contato com o clube.

De acordo com o Ministério Público do Trabalho na Bahia (MPT-BA), os jovens que estavam no local faziam treinos para a divisão de base do time. Eles não tinham liberdade para ir e vir, além de serem submetidos a uma carga de treinamento intensa e receber alimentação inadequada.

Ainda conforme o MPT, o inquérito segue e no dia 19 de setembro o órgão apresentou uma proposta para assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que está sendo avaliada pelo clube. O prazo para análise é de 30 dias.

Time Jacobinense — Foto: Redes Sociais

O ex-prefeito de Cardeal da Silva, Manoelito Argolo, também integra a “lista suja”. Em 2018, fiscais do Ministério do Trabalho resgataram um homem que era mantido em condições análogas às de escravidão junto ao filho de 12 anos em uma fazenda pertencente ao político. Conforme o MTE, os dois estavam em um casebre sem água, com gambiarras elétricas, manchas de fezes de morcegos na estrutura e banheiro sem descarga.

Na mesma época, em outra propriedade dele, os fiscais encontraram 15 empregados sem equipamentos de proteção, recebendo menos que um salário mínimo, sem recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), nem férias. Os relatos dos trabalhadores falam de até 30 anos nessas condições de trabalho. A segunda propriedade não consta na “lista suja”.

Passados seis anos, o nome de Manoelito segue na relação. Os motivos, no entanto, não foram detalhados pelo MTE. O g1 também tenta contato com o político, que tem propriedades com pista de pouso e hangar para aviões, além de um grande parque de exposições. O filho dele, Manoelito Argolo Júnior (Solidariedade), foi reeleito prefeito de Entre Rios no domingo (6).

Casebre onde homem foi achado em condições análogas a da escravidão em Entre Rios, na Bahia — Foto: Divulgação/Ministério do Trabalho

Cinco empregadores de garimpos localizados no Parque Nacional do Boqueirão da Onça, na zona rural de Sento Sé, na região norte, também integram a lista. Apesar de serem cinco empregadores diferentes, quatro garimpos aparecem com exatamente o mesmo nome e localização.

O Ministério lembra que uma mina de ametistas foi descoberta na região em 2017 e mudou totalmente a economia local, que tinha uma rotina pacata e atividades principais de subsistência mais simples, como a pesca e o cultivo de cebola.

Para tentar chegar até as pedras preciosas, é preciso percorrer 50 quilômetros em uma estrada de terra em más condições, além de subir três mil metros até o topo do da Serra da Quixaba, uma verdadeira aventura que oferece riscos à vida.

Nas ocorrências registradas na “Lista Suja” constam que 25 pessoas foram resgatadas em áreas de garimpo do parque, contudo, o período e as condições em que elas foram encontradas não foram detalhadas.

Descoberta de mina atraiu centenas de pessoas a Sento Sé em 2017 — Foto: Reprodução/TV São Francisco

Na última atualização, foram adicionadas na “lista suja” 176 novas pessoas físicas (patrões) e jurídicas (empresas), sendo 20 deles por práticas de trabalho análogo à escravidão no âmbito doméstico. Os casos são predominantes na relação, que também inclui a produção de carvão vegetal, agropecuária, cultivo de café e construção civil, entre outras atividades.

A atualização também promoveu a exclusão de 85 empregadores que completaram os dois anos de inclusão no cadastro. Em abril, foram adicionados 248 novos empregadores – a maior já realizada na história. Agora, a relação conta com 727 nomes, no total.

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