Por Antônio Marques
Meus bens materiais são poucos e deixo tudo para você! Uma coleira mastigada em uma extremidade, uma cama de cachorro bagunçada e uma tigela de água com a borda quebrada…
Deixo-vos metade de uma bola de borracha, uma boneca partida que encontrareis debaixo da cadeira, uma pilha de ossos enterrados no chão da minha casinha…
Deixo-vos os meus pelinhos espalhados pela casa… Além disso, deixo-vos as minhas memórias que são muitas… Deixo-vos a memória de dois enormes e amorosos olhinhos castanhos, um focinho molhado, um rabo inquieto…
Deixei uma mancha no tapete da sala, ao lado da janela, quando nas tardes de inverno me apropriei daquele lugar… Deixei sua cadeira favorita destruída, eu a mastigava quando era filhote, você se lembra?
Deixo só para você, o barulho que fiz ao correr nas folhas de outono, quando compartilhávamos os passeios. Deixo-te como herança a minha devoção, a minha simpatia, o meu apoio quando as coisas não estavam bem, os meus latidos quando te levantaste com a voz zangada… E a minha frustração porque tinhas zangado comigo…
E sem ter falado uma palavra em toda a minha vida, deixo-vos o meu exemplo de “Amor, Paciência e Compreensão”.
Sua vida foi sempre mais feliz… Porque eu estava ao seu lado.