Tentando falar de Regina

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*Por Marcos Cesário

Regina Salgado – Foto: Marcos Cesário

Queria ir agora mesmo na casa de Regina. Olhar para ela, rir com seu riso, chorar com seu rosto e lhe abraçar na entrada de sua casa e, muitas outras vezes durante nossas longas conversas, na cozinha, na sala e em seu quarto.

Mas, se eu for agora à casa de Regina e tocar a campainha, ela não vai me atender. Sei disso porque a vi sendo enterrada ontem no final da tarde.

Agora a tristeza é tão grande que ainda não consigo me sentir triste. Me sinto mais só no mundo. Mais órfão de entendimento, de afeto e de olhar. De um tipo de olhar que Regina não poderá mais me dar. Que só ela sabia me dar e que sempre me esforcei para merecer.

Regina não queria morrer. Amava viver e tinha medo de deixar o que amava. Pensei nisto quando o caixão em que estava seu corpo, não quis entrar na carneira. Regina é mesmo maior que sua morte.

Fui o último a sair do lado do túmulo. Saíram os irmãos, sobrinhos, amigos e até o coveiro saiu antes de mim. Assim pude, eu e ela, conversarmos um pouco. Se Regina estiver certa sobre vida, morte e eternidade da alma, ela ouviu tudo que eu lhe disse, lamentou por minha tristeza e, sendo ela mesma como sempre foi, me respondeu com sua ternura e sorriu para mim.

A partir de hoje minha solidão vai ficar mais larga. As ruas desta cidade estarão mais estreitas. E a porta da casa de Regina estará fechada e quando a porta de sua casa abrir de novo: nem Regina, nem o tempo em que vivemos naquela casa se abrirá com ela.

Pensei que fosse escrever mais sobre Regina. Um texto maior, melhor e mais completo: falando de sua doçura sem cálculos, sua inegociável integridade, sua fé em Deus, na vida e no amor, sua lealdade a tudo e a todos.

Queria em um texto conseguir dizer que Regina Salgado era parente das flores, do vento, dos amigos, dos irmãos, da luz que entrava pela janela e até de quem nunca a conheceu.

Queria dizer tudo o que sinto por Regina para, quem sabe assim, conseguir respirar melhor enquanto eu escrevo. Mas me enganei. As palavras que tento escrever estão saindo com dificuldade e a respiração está tão atrapalhada quanto o ritmo do meu coração.

Ah, Regina…

Cadê você?

Regina, uma parte de mim que só existia com e em você: também foi enterrada ontem…

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