Tempo Rei: Gilberto Gil impressiona aos 82 anos e sustenta show de duas horas e meia no Rio

FONTE: Pretessências

A última turnê do artista segue lotando palcos e levando ao público o melhor de um repertório construído ao longo de 63 anos de carreira musical.

Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

Foto: Reprodução / Pretessências

Emanando alto astral e simpatia, Gilberto Gil está se despedindo dos palcos com a turnê “Tempo Rei”. Ao lado de sua equipe, o artista preparou um espetáculo visualmente rico, pensado para encantar os espectadores e fãs de toda a sua obra. Muito colorido, fogos e papel picado, em “Aquele Abraço”, uma homenagem ao Rio e aos cariocas, a projeção chama fãs para dividir a cena. Nos telões, os rostos de quem estava na pista foram projetados, aproximando ainda mais artista e público numa noite especial e cheia de emoção.

O show começou relembrando a trajetória de Gilberto Gil, destacando os altos e baixos vividos ao longo de sua carreira. O artista trouxe 30 sucessos de seu cancioneiro, a cada música os telões ganham outra vida, uma nova estética que refletia exatamente o sentimento do artista para cada música. “Palco” foi a escolhida para abrir a apresentação na Farmasi Arena, na Barra da Tijuca, onde Gil se apresentou por quatro noites, com ingressos esgotados.

Foi ainda durante a infância que Gilberto Gil se encantou com a música, na década de 50 do século passado, já tocava acordeon, inspirado pelas canções de Luiz Gonzaga. Na música “Eu só quero um xodó” a nostalgia entrou em cena: imagens do Rei do Baião tomaram conta dos telões.

A direção do show é assinada por Bem Gil e José Gil, que também acompanham o pai, respectivamente, na bateria e baixo. Além da assinatura de Rafael Dragaud e dos cenários por Daniela Thomas.

Ao lado deles, um time de músicos de excelência que compõe a banda, entre eles o sanfoneiro Mestrinho, outro discípulo de Luiz Gonzaga, que trouxe ainda mais beleza às referências nordestinas no repertório.

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A turnê “Tempo Rei” estreou em Salvador no dia 15 de março. Os shows no Rio de Janeiro aconteceram em dois finais de semana seguidos — nos dias 28 e 29 de março e 5 e 6 de abril — Na semana que vem, Gilberto Gil dá seguimento à turnê em dois finais de semana em São Paulo.

O retorno ao Rio está previsto para os dias 31 de maio e 1º de junho, com novos shows na Marina da Glória. Depois disso, a turnê segue viagem pelo Brasil, passando por Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Belém, Porto Alegre, Fortaleza e Recife; levando aos brasileiros um espetáculo que celebra a trajetória e a força de um dos grandes nomes da nossa música.

Toda a história de Gil foi contada no palco, o exílio em Londres entre os anos de 1969 e 1972, tingiu todo o palco, telões, fotografias e iluminação de azul. Todo esse azul que se manteve também em “Emoriô”, durante a música, os telões exibiam as imagens do “Filhos de Gandhy”, tradicional bloco de Afoxé que Gil acompanhava desde a infância nas ruas de Salvador. Gilberto Gil tinha uma paixão tão grande pelo bloco que, em 1972, gravou uma música para a agremiação carnavalesca.

Um momento emocionante do show é a homenagem que Gilberto Gil faz à família. Participam da turnê, Bem, João e José Gil, além da filha Nara Gil e a nora Mariá Pinkusfeld.

Foto: Reprodução / Pretessências

Na música “Drão”, composta para a sua ex-mulher Sandra Gadelha, os telões são preenchidos com imagens de Preta Gil, ainda criança, enquanto ecoam os versos: “Quem poderá fazer aquele amor morrer, nossa caminhadura, dura caminhada pela estrada escura”… neste momento é difícil conter a emoção, ainda mais porque, Preta enfrenta uma batalha dura contra o câncer e está de mudança, agora, para iniciar um novo tratamento nos Estados Unidos.

Outro grande ponto alto foi a inserção de um depoimento de Chico Buarque sobre a composição “Cálice”, a primeira feita em parceria com Gil. Chico relembra que, na estreia da música, os microfones de ambos foram desligados, um episódio marcante vivido sob o AI-5, em plena Ditadura Militar. No depoimento, ele destaca a postura serena de Gil, como se carregasse desde sempre a certeza de que o Tempo Rei lhe daria razão. E realmente deu. Durante a música “Cálice”, os telões são preenchidos com imagens daquele período, encerrando com fotos de presos e torturados políticos, como Vladimir Herzog e Rubens Paiva, este último teve sua história contada no filme “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar de 2025 na categoria de Melhor Filme Internacional.

No primeiro final de semana de shows da cidade do Rio a música “A Paz” ganhou a singela colaboração de Marisa Monte, “Andar com Fé” contou com o selinho e a harmonia de Lulu Santos no palco, já no segundo final de semana de shows quem abrilhantou os palcos foi Anitta na parceria em “Aquele Abraço” e Caetano Veloso foi a grande participação especial do dia 06 de abril.

Gilberto Gil exalta a negritude no palco, fala de religiosidade e sagrado, dedica três momentos do show para a Àfrica. Gil fala da importância da viagem que realizou para Nigéria, para se apresentar no Festac (Festival Mundial de Arte e Cultura Negra), realizado em Lagos, capital do país.

Foi lá que Gil compôs músicas para o álbum “Refavela”, de 1977, um trabalho que propôs um mergulho em suas origens africanas e que, como ele mesmo conta, mudou sua vida por completo.

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