Blog do Eloilton Cajuhy

Cafona, calypso, melody, tecnofunk, passinho, aparelhagem – difícil definir um gênero musical que, segundo os pesquisadores, surgiu no Nordeste e no Norte por volta das décadas de 1940 e 1950, e ficou conhecido como brega. Mas mais difícil ainda é não reconhecer quando toca, e quase impossível não cantar junto.
“Garçom, no bar todo mundo é igual … deixando em pedaços o meu coração”.
Foi isso que aconteceu em audiência púbica realizada na Câmara quando o cantor conhecido como Conde do Brega puxou o coro de Garçom, imortalizada por Reginaldo Rossi. O evento discutiu projeto de lei do deputado Clodoaldo Magalhães (PV-PE), que reconhece o brega como manifestação da cultura nacional.
Mas, de acordo com os representantes do gênero, o brega representa muito mais que apenas um estilo musical. O deputado Pedro Campos (PSB-PE) ressalta que em locais como Recife e o Pará o brega movimenta uma “vasta cadeia produtiva”, que inclui, além dos artistas, produtores, gravadoras de videoclipes e compositores.
Pedro Campos é autor de outro projeto sobre o brega em análise na Câmara, uma proposta que institui o Dia Nacional do Brega. Se o texto for aprovado, a data será comemorada em 14 de fevereiro, dia de nascimento do cantor Reginaldo Rossi, considerado o Rei do Brega.
Segundo a cantora Michelle Melo Resende, em Pernambuco o brega responde por quase 70% dos empregos diretos e indiretos da área de entretenimento musical. A artista cita desde o vendedor de pipoca durante um show até o empresário, que “se tornou empresário a partir do brega”.
Os defensores da aprovação dos projetos de reconhecimento do brega também ressaltam a importância do gênero para a inclusão social. De acordo com a cantora Danny Myler, o brega dá protagonismo ao jovem da periferia, às mulheres, sem se importar com religião, raça ou orientação sexual.
O produtor de conteúdo digital Marcelo Barbosa, disse ser um exemplo dessa inclusão promovida pelo gênero musical.
“Sou um jovem negro, homossexual, e todos sabemos que este é um país difícil para quem é negro e homossexual. No entanto, o brega salvou a minha vida. O brega fez eu ser um dos maiores comunicadores do meu Estado hoje em dia nas redes sociais. Tenho mais de 1 milhão de seguidores. O brega fez o meu programa no Youtube ser o maior podcast do Nordeste, e os números falam por si sós. Além de tudo, sou idealizador de uma premiação que trouxe vários artistas do brega para o palco de um teatro. E isso para mim é algo sem palavras mesmo”.
Pedro Campos ressalta que o brega já é reconhecido como patrimônio imaterial do Recife desde 2021. Ainda segundo o deputado, no mesmo ano o Pará também declarou o ritmo integrante do patrimônio cultural e imaterial do estado.
O projeto que institui o Dia Nacional do Brega foi aprovado em todas as comissões e pode seguir para o Senado. Já a proposta que torna o brega manifestação da cultura nacional ainda será analisada pela Comissão de Constituição e Justiça.













