Pesquisa aponta que os brasileiros sofreram 1,7 milhão de golpes financeiros via Pix em 2022

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Dados trazem uma radiografia dos tipos de roubo, perfis das vítimas, canais de contato preferidos dos fraudadores e valores do golpe.

Betânia Lins

Foto: g1

Mesmo com um dos sistemas financeiros mais inovadores do mundo e instituições financeiras que investem para conscientizar os clientes sobre como se prevenir contra fraudes, o Brasil ainda é um terreno fértil para os golpistas: mais de 50% dos brasileiros já foram vítimas de alguma modalidade de crime financeiro digital, seja de golpes ou de clonagem de cartão.

O país ocupa o segundo lugar na lista de maiores perdas do consumidor por essa modalidade de crime; 70% deles são resultado de engenharia social, de acordo com a Febraban. A pesquisa inédita Golpes com Pix no Brasil, que compõe um estudo amplo conduzido pela fintech de proteção financeira digital Silverguard, aponta que os brasileiros já sofreram 1,7 milhão de golpes financeiros via Pix em 2022 e que quatro a cada 10 foram vítimas de alguma tentativa de golpe ao usar esse meio de pagamento.

O estudo Golpes com Pix no Brasil, concluído em agosto de 2023, foi conduzido em três fases. A primeira fase fez uso da Lei de Acesso à Informação (LAI) para obter dados inéditos do Banco Central sobre o Mecanismo Especial de Devolução (MED) do Pix no período de dezembro de 2021 a maio de 2023.

Na segunda, os coordenadores do estudo realizaram uma pesquisa inédita com 1.910 entrevistas on-line baseadas em questionário composto por 30 perguntas (período entre junho e julho de 2023). A amostra contou com a participação de brasileiros na faixa etária de 18 a mais de 70 anos; gêneros masculino, feminino e não binário; todas as regiões do Brasil e classes sociais.

A terceira fase do estudo contou com a análise exclusiva dos dados do SOS Golpe, um produto da Silverguard de atendimento gratuito a vítimas de golpes e crimes digitais. Para compor o estudo, foi feita uma análise de cinco mil denúncias registradas entre maio e julho de 2023.

Segundo Marcia Netto, CEO da Silverguard e uma das coordenadoras do estudo, a pandemia de Covid-19 – que levou ao fechamento de comércios e agências bancárias – revelou a urgência de um processo de digitalização financeira e do letramento em segurança digital da população brasileira. “A facilidade e rapidez do Pix trouxeram ganhos para o cotidiano da população, mas a falta de letramento em segurança digital gerou um aumento no número de golpes.”, afirma, acrescentando que é muito importante ressaltar que a culpa não é do instrumento financeiro, mas dos golpistas.

Com o objetivo de entender melhor o uso do Pix – e como a Silverguard pode endereçar produtos e serviços para apoiar os brasileiros no processo de segurança financeira digital –, a fintech conduziu esta pesquisa inédita. Ainda segundo Marcia Netto, o impacto dos golpes financeiros entre os cidadãos maduros tem nuances para além do impacto no bolso.

Golpes com Pix mais frequentes

Foto: Getty Images
  • Golpe do falso parente, caracterizado pelo golpista se passando por um familiar ou amigo, pedindo dinheiro ou solicitando o pagamento de uma conta.
  • Golpe do produto ou da loja falsa, caracterizado pela compra de produto e/ou serviço em uma loja falsa; a compra nunca é entregue.
  • Golpe da falsa central/gerente do banco, caracterizado pelo golpista se passando por um profissional de uma central de atendimento/gerente do banco pedindo para reverter um falso Pix.
  • Golpe da rede social hackeada, caracterizado pela compra de produto de um conhecido que teve sua rede social ‘hackeada/clonada’.
  • Golpe do falso investimento, caracterizado por uma oportunidade falsa de multiplicar/investir dinheiro.

A Longa jornada pós-golpe

  • A maioria das vítimas não consegue o dinheiro de volta: de acordo com a pesquisa que compõe o estudo, nove de cada 10 vítimas de golpe do Pix não tiveram o dinheiro de volta, sendo que um terço nem tentou reaver o dinheiro.
  • Quanto maior o prejuízo, maior o engajamento e a taxa de sucesso: cinco em cada 10 vítimas que tiveram prejuízo abaixo de R$ 500 no golpe nem tentaram reaver o dinheiro, enquanto apenas um em cada 10 vítimas que perderam mais de R$ 5 mil não tentou; 16% das vítimas que tiveram prejuízo acima de R$ 5 mil conseguiram reaver total ou parcialmente o dinheiro do golpe. A taxa de sucesso foi de apenas 4% para quem perdeu menos de R$ 500.

:: Para quem perdeu mais dinheiro, a análise da Silverguard aponta que quanto maior o prejuízo (acima de R$ 5 mil), maior a preferência (60%) de ir primeiro à agência física da instituição financeira.

“O desconhecimento do que fazer após sofrer um golpe diminui as chances de ter o dinheiro de volta; 18% das vítimas que tentaram reaver o dinheiro começaram pelo caminho errado ao se dirigirem à agência física, quando o correto é solicitar o MED via telefone ou aplicativo móvel.

Esse número é ainda maior nas vítimas com mais de 60 anos: 40% dos respondentes da pesquisa que compõe o estudo Golpes com Pix no Brasil – que sofreram golpe e que têm 60 anos ou mais – preferiram ir à agência física em vez de falar com o atendimento telefônico ou digital da sua instituição financeira. O acionamento do MED é uma corrida contra o tempo, por isso, saber e seguir o passo a passo correto do procedimento aumentam as chances de ter o dinheiro de volta.

  • A maioria não faz Boletim de Ocorrência (B.O.) do golpe: menos da metade (45%) das vítimas entrevistadas fizeram Boletim de Ocorrência (B.O.) do golpe, o que indica que o número está subnotificado pelas fontes oficiais de segurança pública brasileiras. E, quanto menor o prejuízo, menor a taxa de B.O. realizado: 21% das vítimas que perderam menos de R$ 500 fizeram o B.O., já entre aquelas que perderam mais de R$ 5 mil, a porcentagem sobe para 74%.
  • Outros canais também fazem parte da jornada de tentar reaver o dinheiro do golpe. A Ouvidoria das instituições financeiras é acionada por 44% das vítimas. Esse número sobe para 68% das vítimas em golpes com prejuízo de mais de R$ 5 mil; 14% das vítimas reclamaram no Consumidor.gov; 11% fizeram posts em suas redes sociais; e 6% das vítimas entrevistadas fizeram uma reclamação no Bacen, impactando negativamente na reputação das instituições financeiras.
  • Poucos casos são judicializados: apenas 7% das vítimas que receberam uma negativa de devolução entraram com um processo judicial contra a instituição financeira na tentativa de reaver o dinheiro do golpe; o percentual sobe para 20% nas vítimas que perderam mais de R$ 5 mil. Oito de cada 10 vítimas de golpes do Pix não entraram com ação judicial contra a instituição financeira, porque achavam que não ia dar em nada.

:: A pesquisa revela que 30% das pessoas que foram vítimas de golpes financeiros via Pix não fizeram nada para tentar reaver seu dinheiro, sendo que o número é maior entre os mais jovens. Dos respondentes de 18 a 39 anos, 43% não fizeram nada para tentar ter o dinheiro de volta; esse número cai para apenas 12% entre vítimas com mais de 60 anos. Um outro dado relevante é que 55% dos respondentes que sofreram algum golpe com o Pix não chegaram a fazer o Boletim de Ocorrência – o que indica que o número de golpes está subnotificado pelas fontes oficiais de segurança pública brasileiras.

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