Padre conta que pensou em tirar a própria vida diversas vezes, afirma que vive momento iluminado e revela como ano de 2020 foi transformador: ‘Tive a oportunidade de ser meu, como há muito tempo eu não era’
Padre Fábio de Melo usou o ano de 2020 para se reerguer e se reencontrar. Em conversa com Angélica, no podcast de Simples Assim, o religioso afirma que percebeu uma grande transformação durante o período da pandemia.
🎧Clique no link abaixo e ouça toda a conversa de Angélica com o padre Fábio de Melo🎧
https://gshow.globo.com/podcast/simples-assim/
Fé e crenças
Ainda no bate-papo com Angélica, o padre comenta sobre o momento em que o ser humano pode perder a fé e, assim, deixar de acreditar nele próprio. Na opinião do padre Fábio de Melo, algumas situações podem ser cruciais para dar brecha a essa falta de fé em si:
“Um processo de depressão, de tristeza profunda ou de síndrome do pânico – que eu já pude enfrentar – é um momento em que a gente deixa de acreditar na gente, e eu não tenho onde acessar Deus a não ser em mim. Por mais que eu tenha um templo onde eu vou rezar, por mais que eu busque os caminhos que me façam chegar aos lugares sagrados, tudo isso que eu vivo de fora, se eu não vivo por dentro, não repercute. A perda de fé em si mesmo é um prejuízo enorme que a gente não consegue nem avaliar o quão pode ser difícil uma pessoa sair de uma situação como essa”.
O religioso diz que ele mesmo já viveu na pele momentos de incredulidade, justamente na fase em que enfrentava depressão e síndrome do pânico: “O ponto alto da minha descrença com o mundo, com Deus, foi o momento em que eu tive a depressão e a síndrome do pânico. Eu fui para debaixo da cama, literalmente. (…) Sempre tive essa compreensão de que, se eu conserto em mim, eu conserto no mundo. No momento em que eu não soube consertar em mim, foi muito difícil. Eu costumo dizer que a depressão é um sentimento muito cruel porque você deixa de ficar confortável em você. A depressão é um estado de espírito que você não fica bem em você. Independe do lugar que você esteja ou com quem você esteja. Isso é muito difícil. Lidar com isso é o momento em que talvez a gente mais tenha a percepção da insuficiência humana”.
Foi durante essa fase delicada que o padre pensou em tomar decisões extremas por diversas vezes, mas soube se recuperar.
A era dos cancelamentos e as diferenças
O padre faz questão de explicar a necessidade de ter uma mentalidade aberta, deixando críticas e julgamentos de lado, e abrindo espaço para conviver com as diferenças:
“Nós julgamos demais, somos muito rápidos em condenar. Eu acho que é contraditório. Religião é religar, não é separar. (…) A gente nunca perde quando acolhe, abraça, quando a gente dá ao outro o direito de saber que o mundo é dele também. A mim é um desconforto muito grande como padre, como líder religioso que eu sou, fazer um discurso em que eu naturalmente expulse a pessoa do mundo. Não. É diferente de mim? Venha, venha conviver comigo, eu faço questão. Eu aprendo com elas, eu cresço com elas”.