Fernando Coelho, guardião da cultura popular bonfinense parte, mas deixa um legado eterno
Por Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

A segunda-feira (29) marcou a despedida de um dos maiores ícones da cultura popular de Senhor do Bonfim: Fernando Coelho. Fundador e alma do grupo Caroá, ele deixa um legado profundo de alegria, resistência cultural e amor pela tradição. Sua partida mobilizou amigos, intelectuais, artistas e admiradores, que transformaram a dor da perda em palavras de gratidão e reconhecimento.
As homenagens traduzem a dimensão de sua importância: um guardião da cultura popular, criador incansável, amigo fiel e exemplo de bravura diante das adversidades.
Waldísio Araújo destacou a grandeza da obra de Fernando, chamando-o de guardião da cultura popular bonfinense e lembrando como o Caroá simboliza a espontaneidade e a coletividade que tanto cultivou.
Confira:
“Por várias décadas ele tem sido (e, de certa forma, será) o guardião da cultura popular bonfinense.
Não de uma cultura de palanque e que vive de recursos públicos ou privados, geralmente cobertos midiaticamente e acobertados politicamente, mas da cultura rés-do-chão que se faz espontaneamente, sustentada por qualquer cidadão capaz de contribuir com sua alegria e uma casa e coração abertos. Uma cultura que começa e termina nos bairros e outros municípios, se une nas ruas centrais e a partir destas volta a se dispersar até seus lugares de origem, alimentando-os de saudades para o ano seguinte.
Fernando foi campeão em concentrar e canalizar esses fluxos, receber os elementos esparsos e, como um pastor, encaminhá-los juntos pelas ruas da cidade. E assim fez do Carnaval, do São João e do Terno de Reis uma caminhada só, que alinhavava o ano numa só festa com longos intervalos.
Ele soube tocar (nos dois sentidos do termo) a alma mais profunda do povo, aquela que sobrevive por baixo dos modismos e conformismos. Daí seu amor pelas marchinhas carnavalescas (resquícios de antigos bailes de clubes e blocos improvisados de rua), pelo São João ‘de casa em casa’ ou por tradições culturais multicentenárias.
Coerente com tudo isso, a criação, manutenção e persistência do grupo Caroá é um evento histórico que tem dado forma a um estado de espírito geral que cultiva o espontâneo em lugar do projetado, que valoriza o que se faz por prazer antes que por lucro, que se paga com alegria e se desfruta com orgulho de fazer parte de uma coletividade que sofre, mas também sorri conjuntamente.
Como ocorre com os grandes criadores, os efeitos do trabalho cultural de Fernando permanecerão por décadas no fundo daquilo que nós e nossos sucessores viverão. E diante disso, não há morte: o andaime é retirado após a construção do prédio porque é preciso que a eficácia do ato de construir se dissolva e, com isso, permaneça para sempre, mas oculta, na visível beleza da obra.
O grande Caroá da vida agora inclui a casa em que Fernando doravante habita, e onde se buscarão as invenções com que a cidade celebrará, como ele, a alegria de viver”.
Waldísio Araújo
Sérgio Teixeira enalteceu sua força e coragem diante da enfermidade, lembrando que, mesmo limitado fisicamente, nunca se deixou abater e manteve vivo o seu espírito criador.
“Fernando Coelho merece todos os elogios, reconhecimento e admiração por suas inúmeras realizações no campo da Cultura, sendo a mais notória, fonte de muitas alegrias e que marcou o imaginário de várias gerações de bonfinenses, o Grupo Caroá, que deve seguir honrando sua memória.
Mas o que também me impressionou muito foi a sua bravura diante da adversidade que sofreu com a sua enfermidade. Não se deixou abater, absorveu no seu cotidiano e no seus projetos as limitações do crescente declínio dos movimentos do seu corpo. Seguiu adaptando-se à doença sem se acabrunhar.
Um exemplo de força, um exemplo de vida que foi sorvida até o fim sem se entregar ao desânimo. Louve-se a bênção de não ter sido atingido na expressão da sua consciência, e de ter a seu lado uma família próxima que soube acalmá-lo e conduzi-lo com amor, e amigos devotados que nunca o abandonaram.
Meus sentimentos irmanado a todos, família e amigos, bonfinenses em geral. Um grande exemplo por tudo. Siga em Paz, Fernando”.
Sérgio Teixeira
Zé Antônio e Neide ressaltaram a saudade e ternura deixadas por Fernando, pedindo que sua alegria e esperança sigam inspirando o povo bonfinense.
“Fernando partiu! Levou consigo grandes feitos e deixou com a gente uma saudade imensa e a ternura das suas atividades culturais, principalmente no grupo Caroá. Vai Fernando, e de lá torce para continuarmos, aqui, o teu legado, a tua alegria e a esperança de dias melhores para a nossa gente. Descanse em Paz Fernando Coelho. Deus conforte todos os seus familiares e amigos”.
Zé Antônio e Neide
Renato Rosa registrou Fernando como um homem íntegro e participativo, cuja ausência representa uma lacuna irreparável para o Piemonte Norte do Itapicuru e além:
“Foi um homem íntegro de conduta ilibada. Participativo e criativo no âmbito cultural. Fernando Coelho partiu para outro oriente, deixando uma lacuna em todo território do Piemonte Norte do Itapicuru, extensivo também a outras regiões da Bahia. Portanto, lamentamos profundamente essa perda irreparável desse conceituado bonfinense. Que Deus dê conforto aos familiares e amigos. Que nosso grande Deus permita um local especial para o descanso eterno!”
Renato Rosa
Maria Glória da Paz transformou sua homenagem em poesia: imaginou um bandolim alado voando para o céu, simbolizando a partida do “Senhor bandolim”, levando consigo a arte e deixando viva a inspiração do Caroá. Veja:

“Dormi muito cedo ontem. É provável que o meu universo me quisesse mais leve pra receber notícias; essas coisas que a gente se prepara mesmo sem saber porque e para que. Foi assim, acordei e dei de cara com aquilo que já esperávamos, mas não tínhamos certeza de como e quando seria e como ficaria o lugar que fora ocupado por algum tempo, pela vida e arte de Fernando.
Li, olhei de novo pra me certificar, ouvi no meu cérebro, ouvi o bando anunciador e pedi a IA que me desse uma imagem, e ela me perguntou: – que imagem você quer? E eu respondi: – um bandolim com asas voando para o céu. Ela me deu, e eu agradeci.
Agradeci a vida por todos nós, e pela alegria do Caroá. Agradeci por mim, pelo tempo que sorri, cantei, ouvi, dancei e me inspirei com a sua arte e suas invenções. O Senhor bandolim voou! Fernando partiu! O Caroá…
Axé Fernando Coelho! Muito obrigada!”
Maria Glória da Paz
Fernando Coelho partiu, mas sua obra permanece entrelaçada na memória, na música e na alegria do povo. Sua vida se confunde com a história cultural de Senhor do Bonfim — e assim seguirá, por muitas gerações.