Cigarro tradicional ou eletrônico “detonam” estruturas pulmonares e comprometem outras partes do corpo. Apesar do impacto do tabagismo, pneumologista Elnara Negri alerta que parar de fumar sempre vale a pena, pois órgão têm boa capacidade de se recuperar das agressões.
Por Aline Macedo, g1
Seja pelo uso do cigarro tradicional ou dos dispositivos eletrônicos, pouco importa: o vício “detona” estruturas pulmonares e compromete também outras partes do corpo. Apesar das graves consequências, o que acontece com os pulmões quando uma pessoa para de fumar é motivo suficiente para enfrentar a luta contra o tabagismo.
A pneumologista Elnara Negri alerta que, seja qual for o tempo que alguém fuma, largar o cigarro sempre vale a pena, porque:
- O pulmão é um órgão que têm boa capacidade de se recuperar das agressões.
- A principal mudança ocorre em seu revestimento interno, o epitélio respiratório: com o tempo longe do vício, a estrutura é capaz de se recuperar e voltar a cumprir função de proteger o corpo.
- Mesmo para fumantes de muito longa data há vantagens: é possível frear a deterioração do pulmão e evitar o surgimento de mais lesões que afetam a capacidade respiratória.
- Sem o cigarro, o pulmão deixa de absorver substâncias que adoecem o sistema cardíaco, que podem causar diversos tipos de câncer (boca, esôfago, laringe, pulmão e bexiga, entre outros), que causam envelhecimento e que prejudicam o paladar, o olfato e até a vida sexual.
“Sempre vale a pena parar de fumar por razões de aumento de expectativa de vida, porque diminui a taxa de envelhecimento, porque diminui a chance de ter cânceres de diversos órgãos. É difícil? É difícil, mas parar de fumar sempre vale a pena”, afirma a médica Elnara Negri.
Principal mudança: epitélio respiratório ‘revive’
Entre os vários elementos que compõem os pulmões, um dos mais importantes é seu revestimento, o tecido chamado de “epitélio respiratório”. Ele é responsável por agir contra agentes agressores como poluentes, alérgenos ou microrganismos.
“O cigarro estraga nossa capacidade de expulsar bactérias inaladas, função desempenhada pelo epitélio respiratório”, afirma a pneumologista. Ela explica que o tabagismo causa “metaplasia”, ou seja, ele substitui o epitélio por uma cobertura semelhante a uma pele, um revestimento mais “grosso” capaz de aguentar a agressão do cigarro.
“Quando a pessoa para de fumar começa a acontecer o inverso. Nos primeiros dias, as células do epitélio respiratório que sobraram lá começam a tentar reviver e começam a produzir muco para tentar limpar e tirar o que foi inalado nesse tempo todo”, conta Elnara.
“Aí, depois de meses sem fumar, o que você vai ver é que aquele epitélio que virou pele, ele vai começando a voltar ao normal, aos pouquinhos. E essa regulação da produção de muco vai acontecer em meses, às vezes até um ano”, explica a especialista.
De acordo com a pneumologista, é preciso cerca de cinco anos para o pulmão chegar em sua melhor forma pós-tabagismo. “A gente fala se a lesão não for permanente, consegue melhorar muito. Não volta assim totalmente ao que era antes, mas melhora bastante, uns 70%”, comenta Elnara.
Recuperação depende da carga de tabagismo
Há uma conta básica feita pelos médicos que aponta para a necessidade de parar de fumar o quanto antes. Segundo Elnara, um parâmetro de tabagismo por 15 anos, fumando um maço por dia, já é tempo suficiente para uma lesão pulmonar.
“A gente fala que esta é uma carga básica. É preocupante, mas não necessariamente 15 anos, pode ter sido, por exemplo, 2 maços por dia, 7 anos e meio”, alerta.
Sempre é preciso considerar que há diferentes condições genéticas que vão determinar qual o impacto sobre os pulmões (e o restante do corpo). “Tem pessoas que conseguem fumar bastante tempo e se defender bem das agressões do cigarro no pulmão e vão ter lesão em um outro órgão que não consegue se defender tão bem por causa dessa variabilidade genética”, explica.
O enfisema é uma das principais lesões causadas pelo cigarro no pulmão. Ao contrário do que acontece com o epitélio, o quadro de um enfisema é mais complexo. “São danos irreparáveis. E aí o pulmão nunca volta ao normal”, explica.
“O pulmão fica como um queijo suíço cheio de buracos, isso não volta. Mas a bronquite, que é consequência dessa alteração do epitélio, vai melhorando e, com os remédios, o enfisema também”, comenta.
A pneumologista reforça que, a partir do momento em que você para de fumar, o enfisema para de progredir. “(Parar de fumar pode ser) a diferença entre você ficar dependente de oxigênio e não precisar de oxigênio para o dia a dia”, esclarece a pneumologista.
Outros órgãos e impactos positivos com o fim do tabagismo
A especialista lembra que o dano do cigarro no corpo é um “dano de estresse”. “A gente chama estresse oxidativo das membranas celulares. Ele destrói as membranas celulares das células do corpo todo”, afirma.
“Você parando de jogar esse monte de veneno no teu sangue você vai conseguir retardar o processo de envelhecimento”, afirma.
Ela lembra ainda que, quando se para de fumar, começa também a recuperação do paladar e do olfato. “Em 3 ou 4 semanas”, diz a pneumologista.
Elnara lembra que a fumaça afeta as artérias e diminui a circulação do sangue nessa parte do corpo. “Depois dos 60 anos, quem fuma tem 40% de chance de ter algum tipo de disfunção erétil ou doenças cardiovasculares, como infarto ou derrame”, afirma a pneumologista.