Nova regra da pressão arterial: será que você é hipertenso e não sabia?

Famoso 12 por 8 deixou de ser sinônimo de saúde perfeita e passou a significar alerta

Por Stephanie Rizk/O Globo

Equipamento MAPA para medir pressão arterial — Foto: Divulgação

Durante décadas, ouvir do médico que a pressão estava em 12 por 8 era sinônimo de saúde perfeita. Era o número que representava equilíbrio, controle e longevidade. Mas a nova diretriz brasileira de hipertensão, publicada em 2025, trouxe uma atualização importante: 12 por 8 deixou de ser considerado o valor ideal e passou a indicar um estado de alerta. O que antes significava tranquilidade agora requer vigilância. Milhões de brasileiros que se consideravam fora de risco podem, na verdade, estar no início de um processo silencioso que exige atenção.

A pressão arterial é um dos principais determinantes da saúde cardiovascular e da longevidade. Pequenos aumentos, mesmo dentro de faixas antes consideradas normais, elevam o risco de infarto, AVC e insuficiência cardíaca. Com base em novas evidências, as sociedades brasileiras de cardiologia, hipertensão e nefrologia revisaram os parâmetros e definiram que a pressão ideal é abaixo de 120 por 80 mmHg. Valores entre 120 e 139 de máxima e 80 a 89 de mínima passam a ser classificados como pré-hipertensão, um estágio de risco aumentado.

A mudança não busca medicalizar a população, mas antecipar o cuidado. A hipertensão é uma condição silenciosa e progressiva, que pode ser revertida nas fases iniciais com ajustes no estilo de vida. A diretriz propõe uma postura mais ativa: monitorar a pressão, reduzir o sal, manter o peso, praticar atividade física, dormir bem, evitar o tabaco e moderar o álcool. São medidas conhecidas, mas que agora devem começar mais cedo, quando o corpo ainda dá sinais discretos de desequilíbrio.

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As metas terapêuticas também se tornaram mais rigorosas. O novo alvo é manter a pressão abaixo de 130 por 80 milímetros de mercúrio para praticamente todos os pacientes, independentemente da idade. Antes, considerava-se 140 por 90 um limite seguro. Hoje sabemos que, nesse patamar, o risco cardiovascular já aumenta de forma significativa. Em pessoas com doenças associadas, como diabetes, insuficiência renal ou histórico de infarto e AVC, a meta deve ser ainda mais restrita, sempre respeitando a tolerância individual.

A diretriz também reforça a importância da monitorização fora do consultório, por meio da MAPA (monitorização ambulatorial da pressão arterial) e da MRPA (monitorização residencial). Essas ferramentas ajudam a identificar situações de hipertensão mascarada, quando a pressão é normal no consultório, mas elevada em casa, ou de hipertensão do avental branco, quando o oposto ocorre. Esse controle mais preciso permite ajustar o tratamento com base na realidade do dia a dia.

Mais do que uma mudança numérica, essa revisão representa uma mudança cultural. O 12 por 8 fazia parte do imaginário coletivo como o número da normalidade. Agora ele passa a ser o limite entre o equilíbrio e o alerta. A ciência mostra que o dano cardiovascular começa antes do diagnóstico formal de hipertensão, e que o cuidado deve começar nesse momento limítrofe.

A mensagem é direta: a pressão não precisa estar alta para merecer atenção. Cuidar antes é a forma mais eficaz de evitar o tratamento depois. O conceito de saúde, nesse contexto, ganha uma nova dimensão: não apenas de estar livre de doença, mas preservar a função dos órgãos e o bem-estar ao longo do tempo. Manter a pressão em níveis ideais é proteger o coração, o cérebro e os rins. É também proteger o futuro.

Em tempos em que a vida corre depressa e o estresse se tornou parte da rotina, medir a pressão com regularidade é um gesto de autocuidado. Saber o próprio número, compreender o que ele significa e agir diante dele pode ser a diferença entre uma vida longa e uma vida interrompida precocemente. A boa notícia é que, quanto mais cedo se age, maiores são as chances de manter a saúde cardiovascular por décadas. O novo parâmetro não deve causar medo, e sim estimular consciência. A prevenção é sempre o melhor tratamento.

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