Estudos mostram que a quetamina pode reduzir ideação suicida em até 80% dos pacientes nas primeiras 24 horas após aplicação
Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

A campanha Setembro Amarelo, dedicada à prevenção do suicídio e à valorização da vida, chama atenção para a depressão, um dos transtornos mentais mais prevalentes e frequentemente associado ao risco de autoextermínio. Anualmente, cerca de 332 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de depressão, o que representa aproximadamente 5,7% da população adulta global segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Brasil, o Ministério da Saúde estima que 11,3% da população adulta recebeu diagnóstico médico do transtorno no último ano, com prevalência maior entre mulheres (14,7%) do que entre homens (7,3%). Esses números reforçam a importância de reconhecer tempestivamente os sintomas, como tristeza persistente, perda de prazer, isolamento social, alterações no sono e apetite, e sentimento de desesperança, pois, quando não tratados, podem evoluir para quadros críticos.
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Nesse cenário, tratamentos inovadores têm se mostrado aliados importantes. Entre eles está a quetamina, medicamento que vem sendo estudado e aplicado em ambiente clínico controlado para casos de depressão grave e resistente, especialmente quando há risco de suicídio.
Pesquisas, como a conduzida pela Universidade Columbia e publicada no American Journal of Psychiatry, revelam que a substância pode reduzir a ideação suicida em até 80% dos pacientes nas primeiras 24 horas após a aplicação.
“A quetamina possui um mecanismo de ação único, diferente dos antidepressivos tradicionais, pois atua sobre o glutamato, neurotransmissor fundamental para o sistema nervoso central. Essa ação rápida pode oferecer uma ‘janela terapêutica’, permitindo que o paciente engaje melhor em psicoterapia e outras intervenções”, explica o psiquiatra Dr. Ricardo Sbalqueiro, do grupo ViV Saúde Mental e Emocional.
Segundo o especialista, a indicação ocorre principalmente em dois contextos: depressão grave com risco de suicídio e depressão resistente ou refratária, quando o paciente não responde a pelo menos dois antidepressivos de classes diferentes. A administração pode ser feita por via intravenosa, subcutânea ou intranasal, com protocolos que geralmente iniciam em duas sessões semanais, ajustando a frequência ao longo do tempo.
Os efeitos colaterais costumam ser passageiros e desaparecem no mesmo dia, e o risco de dependência é mínimo quando o uso é feito em ambiente médico seguro. Antes do início do tratamento, é realizada uma triagem cuidadosa para avaliar histórico, perfil clínico e possíveis contraindicações.
Para o Dr. Sbalqueiro, a campanha Setembro Amarelo é uma oportunidade de ampliar o debate sobre acesso a tratamentos eficazes e, sobretudo, sobre a necessidade de buscar ajuda.
“A quetamina não é uma cura milagrosa, mas é uma ferramenta valiosa quando usada no contexto certo. O mais importante é que pacientes e familiares reconheçam os sinais da depressão e saibam que existem recursos terapêuticos capazes de oferecer alívio rápido em situações de alto risco”, reforça.