Nosso São João: Calumby – raiz cultural nordestina

Minha Cidade – Senhor do Bonfim
Por Sergio Emmanuel Teixeira
Imagem: Tela de Neto Casanova

A música do Calumby, embora seja onda sonora, dá cor e sabor ao São João de Bonfim. Depois de tantas e radicais transformações dos festejos juninos, o Calumby, cada vez mais escasso e fora de foco, é o sinal sadio a indicar que nem tudo está perdido.

A audição das flautas, ou pífaros, com a zabumba e a caixa clara, mesmo neste cenário de desatenção, penetra na nossa mente, vai lá ao fundo das memórias ancestrais e afetivas, e nos dá a certeza, até de forma inconsciente, que sim, nós estamos no São João de Bonfim.

Esses Calumbys precários (para uns), em imensa desvantagem em relação ao volume sonoro dos múltiplos ambientes amplificados, são como as ervas finas e as especiarias que dão um toque especial a pratos requintados. Sutil, mas definidor do sabor, da cor e do cheiro da iguaria, neste caso o nosso São João profundo, onde cada elemento de resistência e permanência afirma a soberania da nossa cultura.

A bandinha de pífaros é endêmica nos estados nordestinos, com denominações específicas para cada região: “Esquenta Mulher”, Cabaçal, Tabocal, Zabumba, Terno, Banda de Pife, entre outros nomes populares.

Suas origens são incertas, mas poderiam ser ibéricas/portuguesas, trazidas pelos jesuítas que adaptaram as flautas indígenas aos cultos religiosos, às novenas, festas dos santos, e daí saíram para as feiras, para as quermesses e jogos rurais como as Corridas de Argolinhas, de saudosa memória.

E quem a compõe? Anônimos, injustamente desconhecidos, habitantes dos povoados, vilas e periferias do nosso mundo rural. E transmitem essa arte centenária sem chamar atenção das instituições de ensino, sem se darem conta do descaso das politicas públicas.

Mesmo com tantos nomes e histórias em outras regiões, em nenhum outro lugar a banda de pífaros é Calumby. Só aqui na região de Bonfim. É que não queremos dividir essa devoção aos pífaros com mais ninguém. O Calumby é nosso, precisamos afirmar. É o tempero sonoro e o colorido do nosso São João.

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