Samuel da Silva dos Santos aparece com a criança no colo na imagem que viralizou, e já procura saber sobre os trâmites para obter a guarda da recém-nascida.
Por Felipe Gelani/O Globo — Rio de Janeiro
Um dos três garis da Comlurb responsáveis por resgatar a bebê recém-nascida encontrada no lixo na madrugada de terça-feira, dia 1º, quer adotar a menina, que já foi batizada pelo grupo com o sugestivo nome de Vitória. A criança foi encontrada na Rua Ouro Preto, entre Quintino e Cascadura, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na madrugada.
Samuel da Silva dos Santos conta que se emocionou ao encontrar a menina, que julgou ser uma boneca.
— Retirei uma caixa de papelão de cima da menina e pensei que era um Bebê Reborn (brinquedo de boneca realista que faz sucesso entre as crianças). Já estava pensando em dar para a minha filha. Ia ser uma briga com as primas. Aí peguei a mão dela e a senti mole demais. Segurei um pouco mais e ela chorou. Aí o coração parou. Foi aquele ódio. Quem fez isso com a criança? Se a gente viesse no ritmo frenético que normalmente fazemos, não a teríamos encontrado — relatou.
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O gari, que aparece no vídeo que viralizou com a menina no colo, diz que foi quando ele a pegou no colo que ela abriu os olhos.
— Foi aí que ela chorou. Aí, pronto. Desmanchou os corações dos brutos — relata.
Pai de três filhos, Samuel e a mulher entraram em acordo imediatamente: assim que ele contou para a mulher o que tinha ocorrido, ela manifestou vontade de cuidar da menina.
— Quero adotá-la. Temos que passar por vários procedimentos para isso. Somos trabalhadores, não é assim de imediato. Quando falei com a minha esposa, ela disse: “Traz para mim que eu cuido!”. Eu disse para ela que não é assim que funciona — relembra ele, que já foi visitar a pequena no hospital.
Já Anderson Mendes Nunes, outro dos garis que fazia parte da equipe que encontrou a menina, diz que também pensou em adotá-la, e que, seja como for, ela estará cheia de padrinhos na companhia de limpeza. Ele diz que esta foi a situação mais inusitada que já viveu na profissão.
— Quando encontramos a criança, foi uma coisa de Deus mesmo; foi a mão de Deus na situação. Já vi situações nos jornais, mas você nunca espera que vá acontecer com você. Ela ter respondido com vida, com saúde… Foi muito emocionante. A gente só tem a agradecer, pois o Senhor não permitiu que nada acontecesse com a Vitória. Ela é nossa mascote agora — disse.
Inversão da rota foi providencial
Ele salienta, inclusive, que a equipe só encontrou a menina porque, por sorte, justamente nesse dia, resolveu inverter o itinerário da coleta de lixo.
— Normalmente começamos esse roteiro de forma bem diferente, e pegamos essas ruas às 11h, não às 3h. Começamos pela parte de baixo dessa vez. Quando entramos nessa rua começou a bater um cansaço, e ainda faltavam cinco ruas. Avançávamos devagar. Paramos na Ouro Preto e a encontramos.
Os dois garis dizem que colegas da Comlurb já estão perguntando quando será o batizado.
— O pessoal todo já perguntando que roupa vestir, mas eu disse que nem adotei a criança ainda. “Quando eu pegar, vocês fazem um chá de panela”, disse para eles. Aqui na Comlurb somos uma família que trabalha junta há mais de dez anos. Ela vai ser da nossa família. Quero conseguir a guarda para contar a história dela. Vou fazer de tudo para que ela fique perto da gente, e, quando ela for maior de idade, vou mostrar o vídeo dela pequenininha, falar que ela nasceu duas vezes — revela Samuel, emocionado.
A direção do Hospital Maternidade Herculano Pinheiro informou que a bebê está internada em Unidade Intermediária, com quadro de saúde estável, e segue recebendo os cuidados indicados pelas equipes médica e multiprofissional da unidade. De acordo com a Secretaria de Saúde, o Conselho Tutelar e a Vara da Infância já foram comunicados sobre o caso.
A Polícia Civil, informou que o caso foi registrado na 40ª DP (Honório Gurgel) e encaminhado à 29ª DP (Madureira), que dá prosseguimento as investigações.
O Tribunal de Justiça informou que a Vara da Infância e da Juventude de Madureira foi informada pelo Conselho Tutelar do encontro do bebê pelos funcionários da Comlurb e que a criança deve permanecer internada na unidade de saúde para onde foi encaminhada até atingir o peso ideal de alta. Depois disso, a Vara da Infância e Juventude vai providenciar o acolhimento da criança numa unidade de acolhimento e, também, fará a busca ativa por familiares.
Acrescentou que, por determinação legal, antes de se encaminhar uma criança ou adolescente à adoção, é necessário esgotar as possibilidades de (re)inserção familiar.
