Tecnologia torna o tratamento mais seguro, reduz crises de hipoglicemia e hiperglicemia, além de melhorar a qualidade de vida de crianças e famílias.
Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

O diagnóstico de diabetes tipo 1 em crianças costuma ser um divisor de águas na rotina familiar. Exige vigilância constante, controle glicêmico rigoroso e inúmeras picadas diárias para medição e aplicação de insulina. Em meio a essa nova realidade, tecnologias como sensores de glicose e bombas de insulina surgem como aliadas fundamentais para devolver qualidade de vida, segurança e autonomia a esses pequenos pacientes e aos seus cuidadores.
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O médico endocrinologista pediátrico Luís Eduardo Calliari, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro do Departamento de Tecnologia da Sociedade Brasileira de Diabetes, dá detalhes sobre a doença e explica como a tecnologia pode ajudar na qualidade de vida dos pais e pacientes.
O que é o diabetes tipo 1 e como afeta as crianças?
O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca as células beta do pâncreas, responsáveis por produzir insulina — hormônio essencial para a absorção da glicose pelo organismo. “Sem insulina, o açúcar permanece no sangue e pode causar uma série de complicações graves em pouco tempo. O tipo 1 costuma surgir na infância ou adolescência e precisa de insulina desde o primeiro dia do diagnóstico”, explica o endocrinologista pediátrico Luis Eduardo Calliari, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e membro do Departamento de Tecnologia da Sociedade Brasileira de Diabetes.
Segundo dados da Federação Internacional de Diabetes (IDF), o Brasil é o 3º país do mundo com mais pessoas com diabetes tipo 1, atrás apenas de EUA e Índia. São cerca de 588 mil pacientes, com destaque para o número crescente de casos entre crianças.
Desafios do controle glicêmico na infância
Ao contrário do diabetes tipo 2, que pode evoluir de forma silenciosa ao longo dos anos, o tipo 1 exige atenção imediata. “Em poucas semanas após os primeiros sintomas, a criança pode entrar em cetoacidose diabética, um quadro grave que pode levar ao coma”, alerta Calliari. E mesmo com o diagnóstico em mãos, controlar a glicemia na infância é um desafio diário. A regulação natural feita pelo pâncreas precisa ser substituída por uma série de decisões conscientes, como controlar a alimentação, ajustar a atividade física e calcular a dose de insulina várias vezes ao dia — tudo isso enquanto lida com fatores que também afetam a glicemia, como o estresse.
Para crianças pequenas, isso significa depender inteiramente dos pais ou cuidadores para aplicar a insulina e monitorar a glicose.
“O tratamento é exigente. A cada refeição, é necessário medir a glicemia, contar os carboidratos e calcular a dose exata de insulina. Sem isso, há risco tanto de hiperglicemia quanto de hipoglicemia”, explica o médico.
A hiperglicemia ocorre quando há excesso de glicose no sangue, geralmente por falta de insulina suficiente, e pode causar sede excessiva, cansaço e, a longo prazo, danos a órgãos. Já a hipoglicemia é o oposto: níveis muito baixos de glicose, que podem levar a tremores, confusão mental e, em casos graves, perda de consciência. Ambas as situações são comuns em pacientes com diabetes tipo 1 e exigem atenção imediata — especialmente em crianças, que nem sempre conseguem reconhecer ou comunicar os sintomas.
Como a tecnologia tem ajudado: sensores e bombas
Na rotina tradicional, o monitoramento da glicemia é feito com picadas no dedo, de 4 a 6 vezes ao dia, e a aplicação de insulina é feita por seringas ou canetas. Com o avanço tecnológico, surgiram os sensores de monitoramento contínuo de glicose (CGMs) e as bombas de infusão de insulina, que vêm ganhando espaço no Brasil.
O sensor é um pequeno filamento colocado sob a pele (geralmente no braço ou abdômen), que envia leituras contínuas da glicose para um leitor ou smartphone. Com ele, é possível saber a qualquer momento se os níveis estão subindo ou caindo, o que reduz o risco de crises graves.
Já a bomba de insulina, como o sistema MiniMed 780G da Medtronic — atualmente o único com integração entre sensor e bomba aprovado no Brasil —, representa um salto ainda maior. Ela automatiza a liberação de insulina de acordo com os dados enviados pelo sensor, simulando a função do pâncreas. “Ela calcula e corrige automaticamente a dose de insulina, inclusive durante a noite, o que reduz significativamente episódios de hipoglicemia e melhora o controle como um todo”, explica Calliari.
Qualidade de vida: conforto, segurança e mais liberdade
Com o sistema automatizado, a criança não precisa mais interromper atividades escolares, brincadeiras ou momentos sociais para realizar medições constantes. A bomba faz os cálculos em tempo real e libera a insulina conforme a necessidade, com uma margem de segurança muito maior.
“O que vemos, na prática, é uma melhoria enorme na qualidade de vida — não só da criança, mas também dos pais. Eles conseguem ver resultados melhores com menos esforço, sabendo que o sistema está controlando a glicose mesmo durante a madrugada”, diz Calliari.