Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

A ginecologista e especialista em reprodução humana, Drª Carla Iaconelli, 43 anos, sempre esteve do lado de quem cuida. Por mais de uma década, orientou mulheres diagnosticadas com câncer de mama sobre os impactos da doença na fertilidade, explicando de forma clara a importância de preservar óvulos antes do início da quimioterapia. Mas, há alguns meses, foi ela quem ouviu o diagnóstico que tantas vezes ajudou outras mulheres a enfrentar: câncer de mama.
“Mesmo com todo o conhecimento que tenho, a notícia me tirou o chão”, relata a médica, que descobriu a doença precocemente. “Foi um divisor de águas. Como médica, mas principalmente como mulher”, explica a especialista em medicina reprodutiva.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo mais comum entre mulheres no Brasil, com mais de 73 mil novos casos estimados por ano. Em mulheres em idade fértil, o impacto do tratamento sobre a fertilidade ainda é pouco abordado nas primeiras consultas oncológicas: uma falha que, de acordo com a Drª Carla, pode custar caro.
“É fundamental que a paciente receba orientação imediata sobre preservação da fertilidade. Muitas vezes, não há tempo para decidir depois. A quimioterapia pode comprometer permanentemente a reserva ovariana e induzir uma menopausa precoce”, explica Dra Carla.
A médica destaca que técnicas como o congelamento de óvulos são seguras, eficazes e podem ser realizadas em um curto espaço de tempo, cerca de duas semanas, sem comprometer o início do tratamento oncológico.
Menopausa precoce e impactos emocionais
Além dos desafios físicos, a experiência trouxe à tona efeitos emocionais pouco discutidos entre pacientes em tratamento. “No meu caso, os sintomas da menopausa induzida se confundiram com os da quimioterapia e com meu próprio estado emocional. Foi um caos. Eu não sabia o que era o quê”, conta ela.
Drª Carla alerta que os sintomas causados pela queda dos hormônios femininos: como fogachos, depressão, alterações na composição corporal e perda de massa óssea devem ser acompanhados por uma equipe multidisciplinar.
“O cuidado integral, que envolve mastologista, oncologista, ginecologista, nutricionista e psicólogo, é essencial para atravessar essa fase com mais segurança e menos sofrimento”, ressalta
Gravidez após o câncer é possível
Um dos mitos mais comuns entre mulheres diagnosticadas com câncer de mama é o de que a maternidade se torna inviável. Drª Carla esclarece que, em muitos casos, a gravidez futura é possível, mesmo sem o uso dos óvulos congelados.
“Nem todo câncer contraindica uma gestação. Com acompanhamento médico adequado, muitas mulheres conseguem realizar o sonho de ter filhos após o tratamento. Mas é importante não contar apenas com isso: quanto mais cedo a paciente for informada, mais chances terá de preservar sua fertilidade”, alerta a médica
Prevenção e autoconhecimento
Apesar de não ter histórico familiar relevante e manter exames periódicos em dia, a médica foi surpreendida pelo diagnóstico. Por isso, ela reforça a importância do autoconhecimento e da atenção a qualquer sinal diferente no corpo.
“Espero que minha história sirva de alerta e, acima de tudo, de inspiração para que outras mulheres se cuidem, se priorizem e saibam que não estão sozinhas. Sempre o câncer se apresenta como um nódulo. Às vezes, é uma sensação estranha, um incômodo, uma intuição. O mais importante é não ignorar os sinais e buscar ajuda especializada”, orienta Drª Carla.
>> Clique aqui e entre no canal do BEC no WhatsApp
A especialista deixa ainda uma série de recomendações:
- Observe e apalpe suas mamas regularmente;
- Faça exames de rotina todos os anos;
- Converse com seu ginecologista sobre rastreamento genético, principalmente se houver casos na família;
- Procure um mastologista ao perceber qualquer alteração;
- Não adie consultas por falta de tempo ou medo do diagnóstico.
Reaprender a cuidar de si
Hoje, ainda em tratamento, após cirurgia e quimioterapia, e prestes a iniciar a radioterapia, Drª Carla segue sua rotina médica, mas com uma nova perspectiva. “Estamos sempre nos doando aos outros, como médicas, mães, profissionais. Mas não dá para cuidar de ninguém se a gente não estiver bem. Saúde é prioridade”, afirma.
O retorno ao consultório, segundo ela, será diferente. Além da formação técnica, suas pacientes encontrarão uma profissional com vivência na pele e na alma e a certeza de que informação, empatia e acolhimento salvam vidas.
