*A História Esquecida
No final dos anos 60, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, percorria o interior do Nordeste a bordo de uma Rural Willys ano 1961. Com ela, engolia poeira entre um município e outro, onde sempre o aguardavam, tendo como palco a carroceria de um caminhão.
No mesmo veículo viajava o trio que o acompanhava nas apresentações. Piloto, seu sobrinho era um deles. O motorista e sanfoneiro era um tal de José Domingos de Moraes, que ficou mais conhecido como Dominguinhos. Em Alagoas, quem também dirigiu a famosa Rural do Gonzaga foi Tororó do Rojão, o homem que tocava o triângulo no trio forrozeiro.
Numa dessas viagens, no interior de Pernambuco, a caravana do Gonzaga passou por um veículo parado à beira da estrada. Ao seu lado um cidadão fazia sinais indicando que precisava de ajuda. Solidário como todo bom nordestino, Gonzaga pediu a Dominguinhos para dar meia-volta.
— O amigo tá precisando de alguma coisa? — perguntou ao sertanejo que estava ao lado de um velho Jeep. — Vixe, meu Deus do céu! E num é o Luiz Gonzaga… —, alegrou-se. — De carne e osso. Tá precisando de quê? — Faltou gasolina… — Não é problema. Vamos resolver agora.
Dominguinhos, que acompanhava a conversa ao lado, lembrou que não tinha nenhum vasilhame para retirar o combustível. — Eu tenho —, informou o proprietário do Jeep. — E a danada da mangueirinha? Também tem? – quis saber Gonzagão, já com um olhar de malícia e desconfiança. — Tenho, sim senhor!
Depois de abastecer o automóvel com combustível suficiente para chegar à cidade mais próxima, o Rei do Baião se aproximou do cidadão e falou: — Quer dizer que o senhor tinha o vasilhame e a mangueirinha, né? — Sim, senhor. Sou um homem prevenido. — É não. Você é um homem acostumado.
Entrou na Rural rindo da situação. Dominguinhos quis saber a razão do riso e perguntou quem era o tal cidadão. — Um viciado, um viciado em gasolina — respondeu Gonzaga às gargalhadas.
*A partir de um relato de Aldemar Paiva.
23 de abril de 2022
Edberto Ticianeli
Fonte: Contexto Alagoas