Jovem é agredido por segurança, fica duas horas jogado em calçada e morre

Após discussão, Paulo Vinicius dos Santos levou um soco do segurança de uma adega em Guarulhos. Socorro só chegou depois de duas horas

Por Redação g1, Fantástico

Paulo Vinícius ficou na calçada após levar um soco de um segurança — Foto: Reprodução

O empresário Paulo Vinícius dos Santos, de 35 anos, foi agredido, abandonado na calçada, e permaneceu inconsciente e sem receber socorro por quase duas horas em Guarulhos, na Grande São Paulo, no domingo (19).

Vinícius foi internado, mas o quadro de saúde piorou ao longo da semana e ele morreu na sexta-feira (24).

Imagens de câmera de segurança mostram que, às 2h36 da madrugada, no momento em que clientes deixam uma adega, Vinícius parece discutir com um homem, leva um soco no rosto e cai de costas, com parte do corpo entre dois carros estacionados na rua.

O agressor é David Ferreira, de 45 anos, que trabalha como segurança da adega. Ele foi intimado a depor, mas não apareceu. A defesa dele não foi localizada pela reportagem.

Detalhes do que aconteceu estão sendo investigados pela polícia. Na noite daquele domingo, o empresário havia ido com um grupo de amigos para uma choperia em uma rua cheia de bares em Guarulhos. Quando a maioria voltou para casa, ele decidiu dar uma esticada e atravessou a rua até a adega.

“Eu acredito que ele estava lá dentro, saiu pra se despedir e depois tentou retornar para o local. E o segurança deve ter barrado ele”, conta Caroline Martins dos Santos, analista de recursos humanos e irmã mais velha de Vinícius.

Cerca de dez minutos depois do soco, David Ferreira e outro homem seguram Vinícius pelas pernas e braços e carregam o empresário até um recuo na calçada.

“Eles foram ainda mais cruéis. Tiraram ele do local e jogaram ele num local um pouco mais escondido, impedindo que outra pessoa passasse e pudesse socorrê-lo ali”, afirma a irmã de Paulo Vinícius.

“Além disso, tiraram os documentos dele, impedindo que ele fosse identificado, que ele pudesse ser socorrido. Porque ali tinha a carteirinha do convênio de saúde dele”, afirma a irmã de Vinícius.

>> Clique aqui e entre no canal do BEC no WhatsApp

Um dos homens busca o celular de Vinícius caído na calçada. David Ferreira devolve o aparelho para Vinícius, imóvel no chão. Depois, o agressor busca um cone para colocar ao lado da vítima.

Às 3h09, Vinícius começa a se mexer, mas ainda não consegue sair do lugar.

Um rapaz, que estava indo embora da adega pouco antes de 4h da manhã, foi quem acionou o Samu e o Corpo de Bombeiros.

“Quando ele chegou perto, ele viu que estava com ferimento na cabeça. Aí ele pegou a lanterna do celular, olhou e falou: ‘meu Deus, ele tá ferido. Tá sangrando’, e começou a se desesperar e ligar para socorro”, relata Caroline.

Segundo a irmã de Vinícius, nesse momento, as pessoas que estavam no estabelecimento saíram, inclusive o segurança David. “E ele [David] disse: ‘Se você está com dó, bota no teu carro e leva ele embora daqui.’ Porque provavelmente ficou incomodado de estar chamando o resgate para a porta do estabelecimento. O mesmo segurança que agrediu ele ficou bravo porque os meninos estavam tentando socorrê-lo”, afirma Caroline.

Quase duas horas depois do soco na porta da adega, às 4h27 da madrugada, chega a ambulância do Corpo de Bombeiros. Sem identidade, Vinícius é levado ao Hospital Municipal de Guarulhos e identificado como “desconhecido de calça e camisa preta”.

Na manhã de segunda-feira (20), um amigo ligou. Ele tinha passado a noite com Vinícius, mas tinha saído antes da esticada à adega.

A família foi avisada, conseguiu a transferência de Vinícius para um hospital particular, mas o quadro dele piorou ao longo da semana. E, na noite de sexta-feira, ele não resistiu. As entrevistas de Caroline e do advogado da família, Luís Gabriel Vieira, ao Fantástico foram gravadas antes da notícia da morte.

O boletim de ocorrência só foi registrado na quinta-feira (23), depois que a defesa conseguiu acesso às imagens do crime. A polícia investiga se David Ferreira, além de homicídio, também furtou os documentos de Vinícius.

“Conseguimos identificar o agressor, que era o principal envolvido na situação, que desferiu o soco. E estamos trabalhando também na identificação das outras pessoas que participaram do fato. Parece que o que está caído ali não é um ser humano. Parece um saco de lixo ou qualquer coisa que não seja um ser humano”, afirma o delegado Halisson Ideiao.

A Adega Imperium lamentou profundamente os fatos ocorridos na madrugada do dia 20, em nota, e se colocou à inteira disposição das autoridades para a apuração rigorosa dos fatos. A adega não informou se tomou alguma providência com os funcionários envolvidos na morte de Vinicius.

Veja também