No dia seguinte à operação, moradores afirmam ter encontrado mais de 70 corpos, que foram levados para uma praça na Penha. Secretário da Polícia Civil fala em 63 corpos
Por Betinho Casas Novas, Eduardo Pierre, Rafael Nascimento, g1 Rio

O governo do RJ confirmou nesta quarta-feira (29) 121 mortos na megaoperação nos complexos do Alemão e da Penha contra o Comando Vermelho. Foram 4 policiais e 117 suspeitos, segundo o secretário da Polícia Civil, o delegado Felipe Curi. Foi a operação mais letal da história do estado.
Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, afirmaram ter encontrado pelo menos 74 corpos, que foram levados para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, uma das principais da região, ao longo da madrugada desta quarta-feira (29). Curi disse que foram 63 corpos achados na mata.
Entenda os números divulgados até agora:
- O governo havia informado em balanço na terça que havia 64 mortos, sendo que 4 eram policiais civis e militares.
- Mas, na manhã desta quarta, o governador Cláudio Castro (PL-RJ) só confirmou oficialmente 58 mortos, sendo que eram 54 criminosos. Ele não esclareceu por que o número do balanço de ontem foi alterado.
- Em coletiva, a cúpula da segurança do RJ atualizou os números: 4 policiais e 117 suspeitos mortos.
- Moradores afirmam ter encontrado 74 mortos na mata, que foram levados para uma praça na Penha. Secretário da Polícia Civil fala em “63 corpos achados na mata”.
- Haverá uma perícia para ver se há relação entre essas mortes e a operação.
- Curi disse também que foram 113 presos, 33 de outros estados, como Amazonas, Ceará, Pará e Pernambuco.
O g1 apurou ainda que os corpos, todos de homens, estavam na área de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, onde se concentraram os confrontos entre as forças de segurança e traficantes.
O governador Cláudio Castro disse considerar que a ação foi um “sucesso” e que só os quatro policiais mortos são “vítimas”.
Mais cedo, o governador não comentou os corpos encontrados pelos moradores na mata.
“A nossa contabilidade conta a partir do momento que os corpos entram no IML. A Polícia Civil tem a responsabilidade enorme de identificar quem eram aquelas pessoas. Eu não posso fazer balanço antes de todos entrarem”, afirmou.
O secretário da Polícia Militar, Marcelo de Menezes, explicou a estratégia das forças de segurança durante a megaoperação. Segundo ele, foi criado o que chamou de “Muro do Bope”: policiais avançaram pela área da Serra da Misericórdia para cercar os criminosos e empurrá-los em direção à mata, onde outras equipes do Batalhão de Operações Especiais já estavam posicionadas.
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A explicação foi dada durante entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (29), quando a cúpula da Segurança Pública do Rio detalhou os resultados da ação.
O secretário de Segurança Pública, Victor Santos, classificou o “dano colateral” como “muito pequeno”, afirmando que apenas quatro pessoas inocentes morreram durante a ação. A ação contou 2,5 mil policiais civis e militares e é considerada pela cúpula da segurança como de alto risco.
Reconhecimento na praça
O ativista Raull Santiago é um dos que ajudaram a retirar os corpos da mata. “Em 36 anos de favela, passando por várias operações e chacinas, eu nunca vi nada parecido com o que estou vendo hoje. É algo novo. Brutal e violento num nível desconhecido”, disse.
Moradores ouvidos no local disseram que o objetivo do traslado dos corpos até a praça foi facilitar o reconhecimento por parentes. Afirmaram ainda que os deixaram sem camisa para agilizar esse processo, a fim de deixar à mostra tatuagens, cicatrizes e marcas de nascença.
Secretário vê fraude processual
A polícia, no entanto, afirma que as roupas camufladas foram retiradas para que não ficasse exposta a ligação dos mortos com o crime organizado. O secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, afirmou que vai investigar fraude processual pela remoção dos corpos e a retirada das roupas.
“Vale lembrar, para desmistificar certas narrativas, que parece ter ocorrido uma espécie de ‘milagre’ com os corpos que estão aparecendo hoje. Esses indivíduos estavam na mata, equipados com roupas camufladas, coletes e armamentos. Agora, muitos deles surgem apenas de cueca ou short, sem qualquer equipamento — como se tivessem atravessado um portal e trocado de roupa. Temos imagens que mostram pessoas retirando esses criminosos da mata e os colocando em vias públicas, despindo-os. A 22ª Delegacia de Polícia instaurou um inquérito para investigar possível fraude processual.”
Muitos dos mortos tinham feridas a bala – alguns estavam com o rosto desfigurado. Um tinha sido decapitado, mas não se sabia como.
Depois, a Polícia Civil informou que o atendimento às famílias para o reconhecimento oficial ocorre no prédio do Detran localizado ao lado do Instituto Médico-Legal (IML) do Centro do Rio.
Nesse período, o acesso ao IML está restrito à Polícia Civil e ao Ministério Público, que realizam os exames necessários. As demais necropsias, sem relação com a operação, serão feitas no IML de Niterói.
Corpos levados a hospital
Mais cedo, moradores também transportaram seis corpos em uma Kombi para o Hospital Estadual Getúlio Vargas. O veículo chegou em alta velocidade e saiu rapidamente do local.












