Blog do Eloilton Cajuhy
São diversos os desafios para a comunicação segura sobre suicídio, e por isso a Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental organizou uma oficina sobre o assunto na Câmara dos Deputados com especialistas.
Segundo a fundadora do Instituto Vita Alere Karen Scavacini, as pessoas em geral, mas principalmente os meios de comunicação precisam saber como tratar o tema com mais sensibilidade. No caso da imprensa, isso inclui o uso de estatísticas e estudos científicos, sempre com orientações técnicas.
“Nunca se deve tratar do assunto em primeira página, tampouco usar a palavra suicídio na chamada, ou usar fotos e dar detalhes. É válido apresentar histórias de superação e relatos de famosos que já pensaram em pôr fim à vida ou que já perderam alguém. Nunca tratar o suicídio da mesma forma que trataria um crime. Jamais usar fotos grandes, principalmente se a pessoa que se matou for jovem e bonita. Cartas de despedida não devem ser publicadas, para não servirem de exemplo”.
A romantização de uma história verídica aumenta o risco de compartilhamento viral. Karen Scavacini citou como exemplo ruim a capa de uma revista de celebridades que trouxe como manchete “A atriz que morreu por amor”. “A publicação cometeu todos os erros possíveis: colocou na capa a foto da celebridade e publicou a carta de despedida que havia sido dirigida à revista. Suicídio de celebridade costuma receber atenção especial da mídia e quanto maior a identificação de uma pessoa vulnerável com o ídolo, maior a probabilidade de ser influenciada a fazer a mesma coisa”, falou Karen.
O usuário de internet tem um papel ainda mais importante, segundo Karen Scavacini, que já foi diretora científica da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio. Ela afirma que o internauta costuma ser o maior divulgador desse tipo de informação. Nunca se deve compartilhar cenas, vídeos ou detalhes de um suicídio.
Dados do Ipea, colhidos entre 1980 e 2009, mostra que os meios de comunicação foram o terceiro motivador de suicídio, depois de desemprego e violência. 1% no aumento da cobertura da mídia em relação ao assunto representou o aumento de 5,34% na taxa de suicídio de homens jovens entre 15 e 29 anos. Mas isso não significa que o tema não deve ser tratado.
“Porque a hora que a gente ensina as pessoas a falar abertamente e da forma correta, da forma segura, a gente pode ajudar até a diminuir o número de casos. Não adianta a gente colocar esse tema que ainda é muito tabu no silêncio, porque a gente não vai ajudar as pessoas ao não falar, a gente pode mostrar o que fazer quando a gente traz esse assunto, e quando a gente mostra os sinais, para onde pode ter ajuda, o que pode ser feito nas diversas esferas”.
Reportagens sobre suicídio devem preferir entrevistas com especialistas, em vez de policiais e socorristas, e sempre que possível informar locais onde a pessoa pode procurar ajuda, como o Centro de Valorização da Vida, que tem o telefone 188.
As redes sociais têm um papel importante em relação ao assunto. A diretora de relações institucionais do Redes Cordiais, Gabriela de Almeida, afirma que é importante as pessoas prestarem atenção ao tempo gasto no consumo de redes sociais, equilibrar o tempo online e entender como o conteúdo afeta a saúde mental.
“Primeiro, acho que é preciso ser muito honesto consigo. Abrir seu celular agora e olhar um pouco qual é o tempo que você tem dedicado às redes e ao uso de telas de uma maneira geral e tentar equilibrar e não passar todo o seu tempo. De uma maneira geral a gente fala que um uso equilibrado é que a gente não fique muito refém. O máximo que você tirar de notificação é saudável e vai ajudar a você ter uma relação mais saudável com as redes sociais e com a internet”.
O presidente da Frente Parlamentar da Promoção pela Saúde Mental, deputado Pedro Campos (PSB-PE), afirmou que o mundo passa por uma crise de saúde mental. O Brasil é o oitavo país do mundo em número de suicídios, número que tem crescido a taxas elevadas.
“E essa frente parlamentar tem o compromisso com a saúde mental. Tem projetos importantes, como o projeto de lei da política de combate ao suicidio de crianças e adolescentes, o projeto da promoção da saúde mental dos profissionais da saúde, também todo trabalho que tem sido feito, discutindo a questão do atendimento e abordagem de pessoas em situação de surtos psicóticos e a gente vai estar junto para discutir… legislações que possam garantir a saúde mental e que possam prevenir o suicídio”.
Em cada quatro casos de suicídio, três são homens. O índice é maior entre negros e indígenas. Além do telefone do CVV, 188, e da página do CVV, cvv.org.br, outras páginas importantes sobre o tema são a do Instituto Vita Alere, vitaalere.com.br, falarajuda.com.br, mapasaudemental.com.br
A oficina e as palestras vão estar disponíveis na pagina da frente parlamentar da saúde mental na internet. O endereço é frentedasaudemental.com.br