Entre o altar e o apito: como padre que virou árbitro concilia a igreja com os campos de futebol

Objetivo dele é amenizar o clima hostil que diz presenciar nos jogos com ajuda dos ensinamentos católicos

Por Emilio Botta/ge — Ribeirão Preto, SP

Gabriel Balan, padre e árbitro de futebol — Foto: Rodrigo Corsi

Há pouco mais de um ano, a vida de Gabriel Balan praticamente se divide entre o altar e os campos de futebol espalhados pelo interior de São Paulo. Padre há sete anos da Paróquia Nossa Senhora Desatadora de Nós, em Ribeirão Preto, ele concluiu o curso de formação de árbitros e tem obtido destaque na carreira paralela, que parece conflitante com a atividade de pároco.

Dando os primeiros passos como árbitro, Balan, de 31 anos, acredita que a formação de padre pode ser fundamental na transformação que ele se propõe a fazer quando está apitando jogos.

– A arbitragem e o ministério não são coisas que se contradizem de modo nenhum, porque sempre achei que o esporte pode agregar muita coisa boa às pessoas. E como sempre gostei de futebol, percebi que, como árbitro, podia ser uma pessoa que levaria os valores do evangelho ao esporte, que muitas vezes é um ambiente caótico, conflituoso, desarmônico, mas que pela arbitragem a gente está ali para fazer justiça, para trazer a honestidade ao jogo. E acho que isso é um valor importante que a gente aprende tanto na igreja, e que precisa ser muito valorizado no futebol – explica o padre.

Apesar de ter pouco tempo apitando jogos de categorias inferiores do Campeonato Paulista, o árbitro já entra em campo sabendo que os jogadores possuem conhecimento da sua formação na igreja. Segundo ele, isso não tem afetado o desempenho e a maneira como conduz as partidas.

Gabriel Balan em jogo do Campeonato Paulista sub-11 — Foto: Marcelo Chagas

– Realmente o ambiente do futebol é muito hostil, principalmente da parte da torcida, que muitas vezes quer ganhar a todo custo. E para isso não há limites morais, por exemplo, ofensas, xingamentos, tudo o que eles podem fazer às vezes para entrar no psicológico de atletas, ou até mesmo dos profissionais de arbitragem, eles fazem. Só que sempre tentei colocar uma barreira quanto a isso, para que esse tipo de prática externa, que é tão negativa, tão longe do aspecto educacional mais correto que a gente pode pensar da relação humana, não atrapalhasse o meu desenvolvimento, tanto humano quanto pessoal e principalmente profissional, enquanto estou apitando jogos.

“Equívocos sempre vão acontecer e as pessoas precisam entender isso de maneira um pouco mais humanizada”

— Gabriel Balan, padre e árbitro de futebol

– A gente tem que tratar as pessoas com muito respeito, ainda que com autoridade, então tento equilibrar essas duas coisas, mas palavrões dentro do trato entre jogadores e comissão de arbitragem, comissão técnica, é bem difícil encontrar em campeonatos que são regularizados de maneira mais oficial – disse Balan.

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