Por P. Everton da Silva
Em 2022, Senhor do Bonfim, com mais de 70% dos seus eleitores, ao votar em Lula (PT), ajudou a derrubar da Presidência da República o Clã Bolsonaro.
O resultado dessa eleição para nós, maioria do povo bonfinense, significou, naquela oportunidade, a interrupção de uma política necronegacionista (evidente na pandemia da COVID-19), armamentista (vide defesa intransigente da autodefesa da população, em detrimento de uma política séria de segurança pública), moralizante, conservadora e psicologizante das expressões das diversidades humanas (estampada nas diversas falas racistas, homofóbicas e machistas dos membros do governo e do próprio presidente) e familista (visto atribuir unicamente à família o papel de solucionar as demandas sociais que lhe são requisitadas socialmente).
Essa ideologia política autointitulada direita conservadora combinou ações patrimonialistas (tomando o estado como parte do seu patrimônio), populistas, assistencialistas e, na mesma medida, repressivas, tratando as questões sociais como problemas unicamente individuais, desresponsabilizando o estado do papel de prover as necessidades dos trabalhadores e desconsiderando a estrutura do nosso modo de reprodução social, em que a riqueza produzida é privada, mas os custos da produção e do trabalho são socializados, implicando nas inúmeras expressões das desigualdades sociais como conhecemos.
Num movimento contra hegemônico de milhares de brasileiros de todo o país, a luta e a resistência de movimentos sociais, da sociedade civil e das camadas populares, em busca do reconhecimento, da preservação e da ampliação de direitos, nos marcos de uma sociedade democrática, obteve vitória apertada nas eleições de 2022.
Com efeito, há que se chamar a atenção da população que luta por uma sociedade justa, solidária, humana e que respeita o direito à livre expressão religiosa, sexual, cultural, de convicção política (nos limites resguardados pela Constituição e pelos Direitos Humanos, a saber que nenhum direito é absoluto, nem mesmo a vida, haja vista previsão de morte, em caso de guerra declarada Art. 5, inciso XLVII, alínea a), que o compromisso com a democracia e a construção de um país justo socialmente para todos começa no nosso território, na base da sociedade, nas comunidades, nos bairros, no campo, nas escolas e nos postos de trabalho, ou seja, nos municípios, que conformam as unidades mais descentralizadas do estado brasileiro.
Por essa razão, as eleições municipais têm significado relevante na construção e na prospecção do cenário da política nacional. Nesse aspecto, as eleições municipais de prefeito e de vereadores, em 2024, devem ser encaradas como continuidade da nossa luta coletiva por um país mais solidário, complacente e sensível às desigualdades sociais que inscrevem parte dos nossos concidadãos a condições de vidas subumanas.
A despeito da inelegibilidade de Bolsonaro, persiste na conjuntura política atual, a disputa dos dois grandes projetos societários em curso no país, um no campo democrático, com seus erros e acertos; e outro, como cancro, travestido de benignidade, que busca solapar as instituições e impor um estado autocrático, com tendência fascista, para implantar projeto societário que garanta a expansão ampliada do capital de minoria de brasileiros.
Esse modelo pretende romper com o estado de direito (vide 8 de janeiro) e minimizar a participação do estado nas demandas sociais da comunidade.
Esse intento, perpassa pela divulgação de informações falsas e da exploração da fé do povo brasileiro, com o objetivo claro de cooptar as massas a aderir a projeto de sociedade opressor e repressor da luta de trabalhadores, aposentados, estudantes, camponeses entre outros segmentos, em benefício de empresários, rentistas e lideres religiosos que financerizam a fé do povo.
Em Senhor do Bonfim, essa polarização se reproduz.
Conquanto haja um quadro de personalidades com notório compromisso com o nosso município, partimos para mais uma eleição que tende a dicotomizar.
De um lado, reafirmando o campo progressista, forjado nos movimentos sociais de base e da academia, o Professor Helder Amorim, candidato do PT, com reputação irretocável e vasta experiência na gestão pública e com forte tradição no campo de luta democrático.
E, noutro giro, o atual prefeito, do União Brasil (antigos PFL e DEM), partido que serviu de esteio ao Bolsonarismo e que surfou na onda reacionária e negacionista da pandemia, culminando na chegada deste ao poder.
Por fim, cumpre ao povo bonfinense refletir não só sobre o país que queremos, mas o município que queremos que faça parte da construção deste país.
Bonfim não é um mundo à parte, e as escolhas políticas locais têm rebatimentos numa dimensão muito maior e que, invariavelmente, terão impactos no cotidiano do respeitoso leitor(a).