Demora enfraquece a chance de Bolsonaro impor seu candidato

Quanto mais insiste na ilusão de ser candidato, menos chance o ex-presidente tem de impor um nome

Por Dora Kramer/Folha de S.Paulo

O ex-presidente Jair Bolsonaro na garagem de sua casa, em Brasília, onde está em prisão domiciliar – Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Apesar da presença de novatos e de amalucados, a direita está cheia de cobras criadas. E estas, depois de militar na meia-sombra e atuar como linha auxiliar dos governos pós-redemocratização, estão vendo a oportunidade de assumir o poder.

Chances que não estão dispostas a deixar que se esvaia desde já, nos malefícios do bolsonarismo. Melhoria da popularidade de Lula (PT), entrega de discurso da defesa nacional ao presidente, divisões nas hostes direitistas e, sobretudo, o aprisionamento às decisões de Jair Bolsonaro (PL), são os males desse grupo.

Não vai demorar para que se sacramente a perda de influência do ex-presidente na decisão sobre a candidatura presidencial, que afeta os acertos regionais para as eleições de governadores e de parlamentares.

A condição de mandante-mor do destino desse campo já vem sendo esvaziada gradativamente à medida que o tempo passa e o presidente da República ocupa todos os espaços da campanha antecipadamente iniciada.

Se Bolsonaro mantém a ideia de repetir o Lula de 2018, que mesmo preso registrou a candidatura até o mês anterior às eleições, está isolado nessa ilusão. No meio das cobras não há quem compartilhe dela.

O petista é há décadas líder inconteste da esquerda, que se une em torno dele. Bolsonaro emergiu do baixo clero outro dia, quando aqueles que se fingem de comandados para lhe abiscoitar o eleitorado ainda davam seus bordejos na política, no papel de parceiros de quaisquer campos desde que detivessem o poder.

Essa direita está inquieta, sinaliza isso e não demora a perder a cerimônia. Em aberto, contudo, a questão sobre se dará certo ou não e qual estratégia adotar, com que nome contar e se o predileto, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é aquilo tudo mesmo o que se pensava ou um neófito permeável ao cometimento de muitos erros políticos.

A presença de Bolsonaro em cena atende a dois propósitos: os interesses da família e o presidente Lula, devido à encarnação na extrema direita na útil função de contraponto.

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