*Por Drª Andréa Ladislau
Nas últimas semanas as mídias foram invadidas por depoimentos e reportagens de pessoas que, acreditando no sonho do enriquecimento e da prosperidade financeira, investiram todas as economias financeiras, em muitos casos somas gigantes de uma vida inteira, e perderam tudo em função de investimentos monetários fracassados. Infelizmente, casos deste tipo são mais comuns do que podemos imaginar. E diante dessa enxurrada de histórias de tristeza e lamentação, vamos refletir como essa situação pode afetar psicologicamente um indivíduo e o que fazer quando essa realidade bate à sua porta.
O primeiro ponto que deve ser analisado é a facilidade que os indivíduos possuem de criar expectativas. Criamos expectativas em relação ao outro, ao futuro e em relação a nossas conquistas futuras. O grande problema é que nem tudo é previsível. E é exatamente esse o nosso maior ponto nevrálgico: sofremos por não controlar tudo. Quando algo foge ao nosso controle, entramos em estado de desequilíbrio que afeta tanto o comportamento, quanto o emocional.
Isso porque a necessidade em ter o controle das situações nas mãos é um sentimento intrínseco de nossa espécie. Tudo o que é externo e nos foge ao controle, gera insegurança e medo e nos faz sentir vulneráveis. E no caso em questão, estamos falando de uma situação de perda, muitas vezes perda de somas consideráveis. Fato é que, ninguém investe para perder, e quando isso ocorre entra em cena sensações incômodas como: a impotência, o fracasso e a culpa.
Emocionalmente falando, o indivíduo que perde suas economias e se frustra com o resultado negativo, se vê angustiado ao ponto de não conseguir sentir-se em paz, o que gera transtornos emocionais relevantes, como perda de sono, perda de apetite, estresse generalizado, ansiedade, tristeza profunda, depressão, síndrome do pânico e, em casos mais extremos, pode até chegar a atentar contra a própria vida.
Sim, a saúde financeira pode influenciar diretamente sua saúde mental. Elas são pilares fundamentais da qualidade de vida de qualquer pessoa. Portanto, não é possível tratar a saúde financeira sem levar em conta a saúde mental do indivíduo. Se por um lado, ter uma boa saúde financeira contribui para uma melhor qualidade de vida e, consequente, uma mente mais saudável e equilibrada, uma saúde financeira devastada, certamente, será acompanhada de distúrbios mentais.
Não há dúvidas de que uma boa saúde financeira irá contribuir para que a mente esteja em equilíbrio. Prova mais que certa, de que devemos estar sempre atentos a nossa saúde em todos os aspectos, financeira, mental e física.
Outro ponto que deve ser observado aqui, é a sensação de fracasso e inutilidade que pode invadir a mente deste ser humano que se vê perdido e, muitas vezes até sem recursos. E dependendo das circunstâncias em que esse investimento tenha ocorrido, as chances de potencialização de um sentimento de inutilidade ou frustração, por sentir-se enganado, são grandes. Emoções que retroalimentam o estresse, levando o indivíduo a vivenciar sensações de cabeça pesada, irritabilidade, alterações de humor, entre outros gatilhos que justificam a desestruturação mental.
Um outro fator bem relevante de todo esse processo é que além da tristeza, do medo e da raiva, o indivíduo pode também carregar o sentimento de culpa. Uma culpa que distorce a realidade dos fatos e acelera o complexo de inferioridade, a baixa autoestima e a elevação do estresse. O que pode estimular que ele seja exteriorizado através de atitudes desesperadoras em busca da falsa ilusão do alívio e do auto perdão. Visto que, essa impotência também pode estar ligada a vergonha de se expor e mostrar sua fragilidade para parentes e amigos próximos.
Afirmo enfim que, as questões de ordem financeira alimentam diretamente os danos a mente e vice-versa. E se a saúde mental não estiver em dia, sua autoestima e autoconhecimento não estiverem preservados, certamente você poderá cair em falsas promessas motivadas por ganhos elevados, sem análise adequada dos riscos de determinadas operações, gerando ainda mais ansiedade e depressão.
E o que fazer quando essa realidade se apresenta? O ideal é não se entregar a comportamentos e emoções, como: o mau humor, irritação, isolamento social, desatenção, falta de produtividade profissional, culpa excessiva e tristeza profunda. Se não tratado a tempo, essas questões podem levar a consequências mais desastrosas como o envolvimento em vícios como cigarro, álcool, comida e drogas ilícitas, na tentativa de descontar a frustração em excessos ou mesmo na tentativa de suicídios.
Infelizmente nem todos percebem que a frustração e a perda podem gerar doenças mentais. Culpa e vergonha camuflam o problema e ajudam o indivíduo a manter um disfarce mascarado socialmente. Mas a solução não é se culpar e se esconder.
Se o equilíbrio mental não acompanhar sua reorganização financeira e esse ciclo não promover o rompimento com a negação do problema, as questões vão retornar e você estará novamente em apuros, sem possibilidades de reversão. Não adianta fugir dos problemas. Devemos encarar de frente para conseguir perceber sua dimensão e, desta maneira, verificar de que forma poderão ser solucionados.
Quando a mente busca um mínimo de equilíbrio ela consegue visualizar saídas muito eficazes para quitar as pendências. A solução pode ser cuidar da situação financeira e saúde mental ao mesmo tempo, e isso vale até mesmo para quem não está afogado em dívidas.
Enfim, sua saúde mental é muito valiosa e tudo o que possa vir a feri-la deve ser descartado e eliminado de seu cotidiano. Nada é mais saudável do que viver em paz com nossos pensamentos e sem o peso das cobranças e culpas, seja de que natureza for. A terapia pode contribuir para que o indivíduo aprenda a se organizar melhor, em ações e pensamentos. Sabemos que quando estamos desajustados internamente, o nosso exterior reflete este desajuste e potencializa nossas fragilidades e impulsos.
Saber lidar com seus recursos sem acreditar em falsas promessas e milagres financeiros impossíveis, é importantíssimo para se ter uma vida tranquila e repleta de bem-estar. Não deixe que as questões finanças estraguem sua saúde mental e nem o contrário.
Seja dono do seu planejamento e elabore estratégias para eliminar estes fantasmas e fique cada vez mais atento aos seus futuros investimentos, aliado sempre a uma ajuda profissional para que o equilíbrio emocional seja reestabelecido e sua saúde mental também não fique à deriva.
*Drª Andréa Ladislau
Doutora em psicanálise, psicopedagoga, palestrante, administradora, membro da Academia Fluminense de Letras, colunista do site UOL e de outros veículos importantes do país.