Cirurgia pode ser primeira opção de tratamento para glaucomas iniciais, aponta estudo

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Evidências de um dos mais importantes estudos na área de glaucoma mostraram que a cirurgia pode ser o primeiro tratamento para alguns tipos de glaucoma e isso reduz a progressão da doença

Cirurgia pode ser primeira opção de tratamento para glaucomas iniciais, aponta estudo – Imagem IA

A cirurgia conhecida pelo nome Trabeculoplastia Seletiva a Laser (SLT) pode ser a primeira opção do oftalmologista para tratar os casos iniciais de glaucoma de ângulo aberto.

Essa foi a conclusão de um dos mais importantes estudos na área de glaucoma, o LiGHT (laser in glaucoma and ocular hypertension). Este foi o primeiro estudo desenhado e concluído, que teve como objetivo comparar a SLT e os colírios, como a primeira escolha de tratamento para glaucomas de ângulo aberto recém-diagnosticados.

De acordo com os resultados, a Trabeculoplastia Seletiva a Laser se mostrou tão efetiva ou superior aos colírios para controlar o glaucoma em longo prazo. Outro achado importante é que os pacientes que passaram pela SLT, assim que receberam o diagnóstico, apresentaram um necessidade menor de realizar a cirurgia de catarata, bem como a trabeculotomia, cirurgia de glaucoma que é mais invasiva do que a SLT.

O LiGHT é um estudo de longo prazo. Sendo assim, alguns resultados foram divulgados em 2019, após 3 anos de acompanhamento. Nesses resultados, 74% dos pacientes que passaram pela Trabeculoplastia Seletiva a Laser obtiveram um bom controle da pressão intraocular. Além disso, houve uma taxa menor de progressão do glaucoma em comparação com o grupo que usou colírios.

Em 2023, os dados de 6 anos de acompanhamento dos pacientes tratados com a SLT, mostraram que 70% deles alcançaram o controle da PIO, sem necessidade de usar colírios ou realizar novas cirurgias. Por outro lado, o estudo apontou que no grupo dos pacientes que receberam apenas colírios, a taxa de progressão da doença foi de 27%, com uma maior demanda pela cirurgia de catarata.

Segundo a Drª Maria Beatriz Guerios, oftalmologista especialista em Glaucoma, todos os tratamentos para a doença têm o objetivo de reduzir e controlar a pressão intraocular (PIO). O aumento da pressão dentro dos olhos é a principal causa de danos no nervo óptico, que resultam na perda da visão.

“Hoje, em todo o mundo, o uso dos colírios é a primeira escolha de tratamento para glaucomas de ângulo aberto. Porém, a baixa adesão ao uso dos colírios e o abandono do tratamento são situações recorrentes e preocupantes. Desta forma, esse estudo nos traz uma perspectiva importante para impedir a perda da visão, com recursos que apresentam melhores resultados, como a trabeculoplastia seletiva a laser”, comenta Drª Maria Beatriz.

Geralmente, os pacientes com glaucoma são idosos e podem sentir bastante dificuldade para seguir a prescrição dos colírios. O tratamento pode consistir no uso de mais de um colírio, instilado várias vezes ao dia.

Os esquecimentos, a troca dos colírios e a dificuldade em realizar o tratamento em viagens ou durante o horário de trabalho são alguns problemas associados ao tratamento medicamentoso do glaucoma. Outra condição recorrente é o desenvolvimento da síndrome do olho seco, que pode afetar até 60% dos pacientes com glaucoma.

“Alguns componentes dos colírios, como conservantes, podem levar a alterações no filme lacrimal, que resultam no olho seco. E isso, por sua vez, agrava o desconforto na hora da aplicação dos colírios, como piora da ardência pela maior concentração do produto na superfície ocular”, conta Drª Maria Beatriz.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o glaucoma afeta cerca de 65 milhões de pessoas no mundo, sendo a principal causa de cegueira permanente. No Brasil, segundo a Sociedade Brasileira de Glaucoma, a doença pode afetar até 2,5 milhões de pessoas com mais de 40 anos.

Infelizmente, nem todos os pacientes com glaucoma possuem indicação para passar pela SLT. A cirurgia é voltada para pacientes com glaucoma de ângulo aberto, nas fases iniciais ou moderadas, bem como para pessoas com hipertensão ocular.

“O principal objetivo é reduzir a pressão intraocular e mantê-la controlada em longo prazo ou de uma forma mais estável. Isso vai impedir, portanto, novos danos no nervo óptico, além de reduzir a progressão da doença”, esclarece a especialista.

“Por fim, o mais importante é não perder o tempo certo, a janela de oportunidade, para realizar a SLT, considerando as evidências científicas que temos hoje. Os benefícios são evidentes e isso pode mudar o prognóstico do glaucoma, evitando a perda definitiva da visão”, finaliza Drª Maria Beatriz.

Leda Sangiorgio

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