Braga Netto entregou dinheiro em sacola de vinho para plano de matar autoridades, diz Moraes

Segundo delação de Cid, valores vieram do ‘pessoal do agronegócio’; defesa do general não se manifestou até o momento

Cézar Feitoza e Paulo Saldaña/Folha de S. Paulo

General Braga Netto – Foto: Gabriela Biló/Folhapress

A decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes que autorizou a prisão do general Walter Braga Netto relata que o militar obteve e entregou recursos para a organização e execução do plano de matar em 2022 o presidente eleito, Lula (PT), seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), e o próprio Moraes.

A decisão afirma ainda que um “pessoal do agronegócio” teria dado recursos para a trama golpista, segundo depoimento do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

Braga Netto foi preso na manhã deste sábado (14) pela PF (Polícia Federal) sob suspeita de interferir nas investigações sobre a trama golpista de 2022. General de quatro estrelas do Exército, ele também foi candidato a vice na chapa de Bolsonaro na eleição daquele ano.

A defesa do general da reserva não se pronunciou até o momento. Em manifestação anterior, ele afirmou que “nunca se tratou de golpe, e muito menos de plano de assassinar alguém”.

Após o plano vir à tona, em novembro, Cid foi chamado a depor diretamente a Moraes após a PF apontar indícios de que ele descumpria o acordo de delação premiada. A colaboração foi mantida.

Segundo a decisão de Moraes deste sábado, esse depoimento de Cid, de 21 de novembro, e documentos obtidos na investigação indicam que “foi Walter Braga Netto quem obteve e entregou os recursos necessários para a organização e execução da operação ‘Punhal Verde e Amarelo’ — evento ‘Copa 2022′”.

O Plano Punhal Verde Amarelo previa matar as autoridades. O evento Copa 2022 era a operação para sequestrar Moraes no dia 15 de dezembro de 2022, de acordo com a PF.

No relatório final do caso, divulgado em novembro, a PF havia listado uma série de atividades desse grupo que tiveram início a partir de uma reunião em 12 de novembro de 2022 na casa de Braga Netto.

Em uma versão anterior apresentada à PF, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro havia dito que o encontro de militares das Forças Especiais com Braga Netto naquele dia ocorreu porque os militares queriam tirar fotos e cumprimentar o general.

No local, segundo Cid, eles teriam discutido sobre a “conjuntura nacional do país, a importância das manifestações, o pedido de intervenção militares […], se as manifestações podiam estar lá [em frente aos quartéis]”.

Já o termo de audiência do depoimento de Cid em 21 de novembro diz que o tenente-coronel levou os militares ao apartamento de Braga Netto para falar sobre a “indignação com a situação do país e a necessidade de ações concretas”.

O documento do Supremo diz ainda que o tenente-coronel Rafael de Oliveira se encontrou com Braga Netto dias depois da reunião. Na ocasião, o general teria entregado a Oliveira dinheiro em espécie, guardado em uma “sacola de vinho”, para a “realização da operação”.

Os valores, segundo a delação de Cid, teriam sido obtidos com o “pessoal do agronegócio”.

O trecho do termo de depoimento de Cid no STF não deixa claro se o dinheiro havia sido repassado com o objetivo de financiar o plano de assassinar autoridades. Em trechos anteriores da delação, Mauro Cid disse que o tenente-coronel Rafael de Oliveira pediu R$ 100 mil para levar bolsonaristas de outras regiões do país ao acampamento golpista montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

As conclusões da Polícia Federal e de Alexandre de Moraes, porém, são de que os valores foram utilizados para viabilizar o plano de executar autoridades.

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