Blog do Eloilton Cajuhy – BEC
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Nesta época do ano, a noite não começa com silêncio. Começa com o zumbido fino, insistente, atravessando o quarto escuro como um aviso: ninguém vai dormir em paz.
Você conhece o ritual: se encolhe debaixo do lençol, cobre o rosto, deixa só um fiapo de ar. É por essa fresta que elas entram. Então passa veneno, fecha janela, improvisa barricada. Não adianta. O corpo vira território ocupado.
O incômodo não vem só das picadas. Vem da certeza de que dormir será uma batalha. O sono chega aos pedaços, interrompido pelo zumbido e por uma lista nada abstrata: dengue, zika, chikungunya. Não é paranoia: é dado epidemiológico com trilha sonora.
Não é só muriçoca chata. É retrato de cidade que naturalizou água parada, calor sem manejo e política pública que funciona em horário comercial. Você acorda no escuro, bate no ar com fé, erra, e ouve de novo o voo preciso: a desordem urbana aprendeu a voar. E não se perde.
Enquanto a cidade se cobre de luzes de Natal, no lugar das renas vieram as muriçocas para celebrar a festa, o calor e a gente toda reunida. E nós? Corpo pesado, contagem de picadas e aquela sensação incômoda de que, por aqui, dormir virou privilégio.
Feliz Natal. Que venha com repelente.
Miguel de Cândido












