Bolsonaristas caçam culpados por ato esvaziado na Paulista e acirram disputas internas

Michelle não vai a evento e cita viagem a Roraima; Eduardo diz que é preciso atenção sobre ‘quem compareceu, quem não compareceu’.

Por Bruno Ribeiro e Juliana Arreguy/Folha de S.Paulo

Manifestantes durante ato em apoio ao ex-presidente Bolsonaro, domingo, 29 de junho, na Av. Paulista em São Paulo – Foto: Zanone Fraissat/Folhapress

Aliados de Jair Bolsonaro (PL) passaram a procurar culpados entre si, acentuando rachas já existentes no bolsonarismo, após a manifestação deste domingo (29) na avenida Paulista ter atraído um público abaixo do esperado para os atos promovidos pelos simpatizantes do inelegível ex-presidente da República.

Segundo o Monitor do Debate Político do Cebrap, o público deste domingo foi de 12,4 mil pessoas. Em abril, em outro ato, foram contabilizados 44,9 mil manifestantes. Já em fevereiro do ano passado, no mesmo local, o monitor estimou 185 mil pessoas na manifestação em defesa de Bolsonaro.

Enquanto parte do entorno do ex-presidente apontou falta de lealdade de aliados que faltaram ao ato, outras figuras próximas criticaram a organização da manifestação, que teria sido feita de modo a afastar políticos de centro-direita que orbitam o bolsonarismo.

>> Siga nosso canal no WhatsApp e veja mais notícias

Auxiliares ligados ao clã Bolsonaro enfatizaram a crítica à ausência de nomes como os dos presidentes do PP, Ciro Nogueira, e do União Brasil, Antônio Rueda – que se uniram em uma federação partidária –, do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Até a noite de sábado, os organizadores davam como certo que Michelle e Nikolas não só participariam do ato como discursariam ao lado de Bolsonaro.

Além disso, o grupo viu oportunismo nas críticas feitas por Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao governo Lula. O governador de São Paulo, cotado como possível candidato à Presidência, mas que nega interesse, disse “fora, PT” duas vezes em sua fala e poupou o STF de críticas.

Para o grupo, o discurso não ajudou em nada, por exemplo, a defesa da libertação de presos como o general Walter Braga Netto, detido desde dezembro sob acusação de tentar atrapalhar as investigações sobre a trama golpista que, segundo denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), Bolsonaro teria liderado.

Ex-presidente Bolsonaro no STF – Foto: Mateus Bonomi/AGIF

Sem citar nomes, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, divulgou um vídeo nas redes sociais comentando as manifestações e pedindo atenção a detalhes como “quem compareceu, quem não compareceu, como é que foram os discursos, quem é que faz o embate”.

Em autoexílio nos Estados Unidos desde março, ele é cotado como possível sucessor do pai em uma disputa presidencial em 2026.

“Essa é uma grande oportunidade para você aprender, porque foi ali um palco, não somente por um grito de liberdade, mas também um evento que não deixa de ser político. Então é para você acompanhar a política de perto, porque quem não escuta ‘cuidado’, depois ouve ‘coitado'”, disse Eduardo.

O filho e a mulher de Bolsonaro travam uma disputa familiar pela indicação do ex-presidente para sucedê-lo nas urnas, uma vez que ele está inelegível por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Enquanto o deputado está no exterior, a ex-primeira-dama justificou a ausência dizendo que tinha um evento do PL Mulher em Roraima.

Organizadores do ato de domingo alegaram, reservadamente, terem sido surpreendidos pela viagem de Michelle e disseram que o encontro em Roraima não foi sequer divulgado em redes sociais. Além disso, houve outro evento do PL Mulher em Boa Vista, capital roraimense, no dia 1º de junho.

A reportagem enviou mensagens para Nogueira e Rueda, mas nenhum deles respondeu. Também não conseguiu contato com Michelle.

Por meio de sua assessoria, Nikolas Ferreira afirmou que não foi à manifestação porque compareceu a um casamento de sua família. “Fui padrinho de casamento de uma prima, que morou comigo minha infância toda. Casamento marcado há meses. Não faltei a nenhuma outra manifestação. E com discursos contundentes”, disse.

Veja também