Por Filipe Colombini, psicólogo parental e CEO da Equipe AT*
No mês de conscientização sobre o autismo, surgem polêmicas em torno de um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) e de um decreto do governo de São Paulo, que trazem à tona as propostas de inclusão de autistas nas escolas.
Hoje existem 634.875 estudantes diagnosticados com TEA nas escolas públicas e particulares brasileiras, alta de mais de 1.400% nos últimos dez anos, segundo dados do MEC.
Estas crianças têm alterações de neurodesenvolvimento que afetam, em geral, a comunicação, a linguagem, o comportamento e as interações sociais e é importante lembrar que existem diversos níveis de autismo, portanto, cada autista deve ser compreendido em sua individualidade.
Em geral, as atuais discussões giram em torno de questões práticas, como a entrada ou não de acompanhante para o aluno na sala de aula, mas também de temas mais profundos ancorados em diferentes correntes da Psicologia e da educação.
Fato é que muitos pesquisadores são contra a presença de um psicólogo ou profissional formado e devidamente preparado para trabalhar em sala de aula como acompanhante do aluno autista (e isso abarca o Acompanhante Terapêutico – AT Escolar).
Eles basicamente alegam que o AT pode prejudicar o processo de inclusão porque esta deve ser realizada pelos professores e equipe pedagógica.
Esta é uma premissa que pode ser muito bonita no mundo das ideias e reflexões, porém afirmo categoricamente: não funciona na prática.
No dia a dia das escolas, o que ocorre de fato é que os alunos autistas demandam diversos níveis de intervenção, justamente em função das características do transtorno manifestadas em cada um e, portanto, o papel do acompanhante é primordial e altamente necessário, contribuindo para a aprendizagem efetiva.
Volto a reforçar que existem diversos graus de autismo – contemplando desde crianças com problemas de socialização até aquelas que não conseguem realizar tarefas como se alimentar, por exemplo – e cada aluno deve ser atendido em sua individualidade e segundo o grau de complexidade do transtorno.
Existem aqueles que necessitam de suporte extremo e intervenções intensivas, enquanto outros não. Eles não devem ser encarados segundo uma configuração única, absolutamente.
Em minha rotina como AT, percebo que há um desentendimento generalizado da real função do monitor e do Acompanhante Terapêutico Escolar. É preciso que o poder público entenda que as normas e diretrizes seguidas por estes profissionais não vão afetar o desenvolvimento escolar de cada criança, na realidade a sistematização é importante sobretudo para servir como um guia para os educadores.
Acima de tudo, a educação inclusiva não está acontecendo de forma efetiva. Da forma como está hoje, não dá para afirmar que há inclusão na forma literal da palavra.
Recentemente, acompanhei o caso da deputada estadual Andrea Werner (PSB), ativista e mãe de um adolescente com TEA, que afirma receber diariamente dezenas de denúncias de escolas que recusam matrícula ou não oferecem apoio e impedem que acompanhantes dos alunos participem do ambiente escolar. Como as normas não são claras sobre o acompanhante, tem crescido a judicialização.
Ela afirma que não faz o menor sentido a escola impedir um profissional que vai ajudar a criança. Em suas palavras, “a realidade é de escolas lotadas, com cinco autistas numa sala, outras deficiências. Muitas vezes a criança fica meia hora na escola e ligam para a mãe buscar ou chamam a polícia porque o aluno entrou em crise”. Andrea é a favor do decreto do governo que permite que as famílias levem acompanhantes pagos por elas para atuar na escola. E nós, como psicólogos parentais e AT’s, também.
*Filipe Colombini: psicólogo, fundador e CEO da Equipe AT, empresa com foco em Acompanhamento Terapêutico (AT) e atendimento fora do consultório, que atua em São Paulo (SP) desde 2012.