
O corpo do agricultor José Raimundo Mota de Souza Junior, de 38 anos, foi sepultado na manhã deste sábado (15), no Povoado de Jiboia, município de Antônio Gonçalves. Ele foi morto por quatro elementos quando estava na sua roça em companhia de outro companheiro, fato ocorrido na tarde da última quinta-feira (13). A motivação do crime se deve, certamente, ao seu envolvimento na luta por direitos à terra, já que a comunidade vem pleiteando junto ao INCRA o reconhecimento e a desapropriação de terras para a comunidade Quilombola.
O crime entrou para as estatísticas de forma negativa de um país que ainda assassina de forma covarde os que lutam por direitos sociais. Um assassinato brutal de um negro quilombola e membro do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores).
Na caminhada fúnebre, até o cemitério, o povo cantava as cantigas das suas lutas e gritava palavras de ordem, pedindo justiça. Antes do caixa descer à sepultura, várias lideranças se manifestaram mostrando indignação e clamando por justiça.
O Deputado Estadual Marcelino Galo esteve presente representando a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa da Bahia, e disse que vai fazer todo o empenho junto aos órgãos de investigação e outras entidades parceiras no sentido de elucidar o caso e punir os culpados.
Quem também marcou presença foi a ex-assessora da CPT, Drª Cecília Petrina, prefeita de Itiúba. Cecília foi uma das principais lutadoras e defensoras da Reforma Agrária na Bahia, além de ser uma articuladora de esquerda. Ela disse estar indignada com os constantes massacres que vem acontecendo com os trabalhadores brasileiros.

Os membros do MPA, CPT, Sindicatos, associações, CETA e outros parceiros da luta, fizeram protesto através de seus representantes que, em uma só voz, pediam justiça. “O assassinato de Júnior não matou só ele, destruiu toda a família“, disse uma senhora em lágrimas.
A chuva molhava a terra do cemitério e um agricultor disse: “Ele gostava tanto da terra, que morreu na roça e na hora de seu enterro está chovendo“. Neste momento, foram jogadas muitas sementes criolas no túmulo, já que Júnior era um defensor incansável dessas sementes, inclusive fazia parte do projeto de criação de banco de sementes, para contrapor os transgênicos e manter os agricultores com a garantia de uma produção sustentável.
Uma cena desoladora foi quando o agricultor conhecido como Val deixava o cemitério com uma pá nas mãos. Olhando para o infinito, dizia: “Com esta pá enterrei meu companheiro“.
*BLOG DO ELOILTON CAJUHY – Com informações de Juju Mangabeira DRT 6341