Ansiedade infantil cresce 27% no Brasil e se manifesta antes dos 10 anos, aponta instituto

FONTE: Carolina Lara

Com sinais físicos e alterações de comportamento, transtorno desafia escolas e famílias.

Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

Foto: Reprodução/Sun Kids

Dor de barriga frequente, insônia, irritabilidade e isolamento social. Esses são alguns dos sintomas que têm levado pais e educadores a buscar apoio psicológico para crianças cada vez mais jovens no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento (INPD), os casos de ansiedade infantil aumentaram 27% nos últimos cinco anos, com manifestações significativas ainda antes dos 10 anos de idade.

O dado acende um alerta para profissionais do Instituto Brasileiro de Formação de Terapeutas (IBFT), que observam crescimento expressivo na demanda por atendimento infantil.

“A ansiedade na infância muitas vezes se expressa por meio de dores físicas ou mudanças abruptas de comportamento. Por desconhecimento, esses sinais são confundidos com birra, desobediência ou agitação típica da idade”, afirma o psicólogo Jair Soares dos Santos, fundador do IBFT e criador da Terapia de Reprocessamento Generativo (TRG).

Doutorando em Psicologia pela Universidade de Flores, na Argentina, Soares destaca que o sofrimento emocional em crianças tende a ser silencioso e mal compreendido. “É comum recebermos relatos de crianças com dor de barriga antes de ir à escola, crises de choro aparentemente sem motivo, resistência ao sono ou explosões de raiva. Esses comportamentos são, muitas vezes, pedidos de ajuda emocional”, explica o psicólogo.

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Entre os fatores que contribuem para a ansiedade precoce estão a insegurança emocional, sobrecarga sensorial e falta de espaço para expressar sentimentos. O ambiente escolar, segundo os especialistas, ainda falha em reconhecer os sinais iniciais. “Geralmente a escola só age quando há queda de rendimento ou comportamentos mais extremos. Mas os primeiros sinais aparecem bem antes disso”, pontua.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já classifica os transtornos de ansiedade como uma das principais causas de sofrimento mental entre crianças e adolescentes no mundo. No Brasil, o problema é refletido em dados da Fundação Fiocruz, segundo os quais uma em cada quatro crianças entre 6 e 12 anos apresenta sintomas de angústia emocional crônica, muitas vezes sem diagnóstico formal.

Frente a esse cenário, a TRG tem sido adaptada para atender o público infantil. A técnica não exige verbalização direta das emoções, característica que favorece o tratamento de crianças que ainda não conseguem expressar o que sentem de forma clara. “A TRG é altamente eficaz nesse público porque respeita o tempo emocional da criança e trabalha as raízes do sofrimento. O método permite acessar, de maneira segura, experiências precoces que ainda repercutem no comportamento atual”, explica Soares.

Apesar dos bons resultados clínicos, o IBFT reforça que o tratamento deve envolver o núcleo familiar. “A criança está inserida em um sistema emocional. Não adianta tratá-la isoladamente. Em muitos casos, os pais também carregam dores que se refletem nos filhos. Sempre que possível, recomendamos a terapia familiar”, orienta.

Para Jair, tratar a ansiedade infantil vai além de aplicar um rótulo clínico. “É preciso escutar o que aquela criança tenta comunicar com seus sintomas. Antes de medicar ou punir, é necessário compreender”, defende Soares. Segundo ele, a medicalização precoce, sem acompanhamento terapêutico, pode mascarar a origem do sofrimento e comprometer o desenvolvimento emocional.

A proposta do instituto é capacitar terapeutas para reconhecer o sintoma como um sinal legítimo de sofrimento psíquico, e não como desvio de conduta. “Uma infância ansiosa é um alerta de que algo precisa ser olhado com mais cuidado. E é justamente nesse momento que temos a chance de prevenir o adoecimento emocional na vida adulta”, conclui o fundador do IBFT.

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