A vibradora dor – Por Mário Sérgio Cortella

FONTE: BLOG DO ELOILTON CAJUHY

Para não sucumbir à brevidade da vida é preciso lembrar dela. Não para que essa brevidade nos assuste, mas para que nos deixe em estado de alerta. Nossa mortalidade se evidencia em vários momentos, mas não significa que precisemos viver apenas em função disso. Por outro lado, ela não pode ser esquecida. Nosso tempo de vida é finito. Fazemos todo o esforço no campo do conhecimento humano para que essa finitude não seja antecipada. A própria Medicina se notabiliza por essa capacidade de nos proteger e de nos cuidar nesse sentido.

O poeta francês Charles Baudelaire (1821-1867) na sua obra “As flores do mal”, que causou escândalo quando lançada em 1857, diz: “Relógio! deus sinistro, assustador e calvo/ E cujo dedo ameaça nos dizer: Recorda!/ A vibradora dor, que, no medo transborda/ Será em teu coração fixa como num alvo”. O relógio recorda a nossa temporalidade, a nossa necessidade de não desperdiçarmos a existência, porque a vibradora dor, como diz Baudelaire, está em nós fixada. Deve nos deixar alerta, mas não deve, de modo algum, ser esquecida.

  • Mais reflexões sobre relações com o tempo podem ser lidas em “Não espere pelo epitáfio”, (Vozes, 138 pág.)

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