Estudos apontam perdas bilionárias causadas por fake news nas redes; tema ganhou destaque na COP30 e impulsiona ações de educação midiática no Brasil
Blog do Eloilton Cajuhy – BEC
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A desinformação deixou de ser apenas um fenômeno social para se consolidar como um problema econômico de grande escala. Estudos do World Economic Forum apontam que informações falsas geram perdas trilionárias ao afetar mercados, políticas públicas, decisões de investimento e a confiança nas instituições. No ambiente digital, esse impacto é amplificado pela velocidade de circulação dos conteúdos.
Pesquisa do MIT Media Lab indica que notícias falsas se espalham 70% mais rápido do que informações verificadas nas redes sociais. Essa dinâmica pressiona governos, aumenta custos de resposta a crises, gera instabilidade regulatória e compromete estratégias econômicas de longo prazo, especialmente em temas sensíveis como clima e sustentabilidade.
No Brasil, os efeitos econômicos da desinformação se conectam diretamente à crise climática. Secas, enchentes e eventos extremos já provocam prejuízos bilionários à infraestrutura, ao agronegócio e ao setor energético. Quando boatos digitais distorcem dados científicos, o resultado é atraso na formulação de políticas públicas e maior vulnerabilidade econômica.
A desinformação climática esteve no centro dos debates da COP30, realizada neste ano em Belém (PA). O encontro reforçou que a crise climática é também uma crise informacional, com impactos diretos sobre o desenvolvimento econômico. Dados do Relatório Bienal de Transparência do Brasil mostram que o país enfrenta 14 ameaças climáticas distribuídas por todas as regiões, com maior exposição no Norte.
Nesse contexto, foi lançado o guia “No Clima Certo: combatendo a desinformação climática nas escolas”, iniciativa do Redes Cordiais em parceria com a Embaixada do Reino Unido. O material propõe integrar educação midiática e climática ao currículo escolar, fortalecendo o pensamento crítico em um ambiente digital marcado por excesso de informação.
“A escola é um ambiente estratégico para o combate à desinformação climática. É nela que se forma o olhar crítico, a confiança na ciência e a capacidade de distinguir fatos de manipulações. A desinformação climática é hoje uma das maiores ameaças à ação ambiental. Criada para manipular, gerar medo e proteger interesses econômicos, ela se espalha nas redes sociais com velocidade superior à dos fatos”, destaca Clara Becker, diretora executiva do Redes Cordiais.
Abaixo, algumas dicas para combater a desinformação nas escolas
- Ensinar a checar fontes
Um dos primeiros passos, segundo o guia, é formar leitores críticos. Professores devem ensinar os alunos a identificar quem produz uma informação, quando foi publicada e se apresenta dados verificáveis. Falsos especialistas, textos sem fontes e conteúdos patrocinados por grupos de interesse são os principais sinais de alerta. A recomendação é que educadores promovam o uso de ferramentas de checagem e incentivem o hábito de desconfiar antes de compartilhar.
- Trabalhar o tema de forma transversal
O guia defende que o combate à desinformação não deve ser tratado como uma disciplina isolada. A proposta é abordar o tema em projetos interdisciplinares, ligando ciências, geografia, português e artes. Professores podem propor que os estudantes analisem boatos sobre o clima local, pesquisem as origens das mensagens e criem seus próprios conteúdos informativos, fortalecendo o senso de responsabilidade digital e ambiental.
- Integrar educação midiática e climática
A alfabetização midiática, afirma o guia, é parte da formação cidadã. Compreender como funcionam os algoritmos e as “bolhas informacionais” das redes sociais ajuda os jovens a perceber como o ambiente digital molda sua visão sobre o meio ambiente. O documento defende que a escola deve preparar os alunos para atuar nesse cenário com ética, empatia e base científica, especialmente nas regiões onde a desinformação influencia a percepção sobre a Amazônia.
- Dar voz aos estudantes
O guia também destaca a importância de ampliar o protagonismo juvenil por meio de projetos de comunicação. Produzir podcasts, vídeos e campanhas digitais permite que os estudantes expressem como vivem os efeitos da crise climática e se engajem na busca por soluções. Essa abordagem, afirma o material, é essencial para lidar com a chamada “ansiedade climática”, um fenômeno crescente entre jovens que se sentem impotentes diante das mudanças ambientais.
- Tornar a escola um espaço resiliente
Por fim, o guia propõe que as escolas se tornem “resilientes”, ou seja, capazes de continuar funcionando mesmo diante de eventos extremos, como enchentes e ondas de calor. Isso envolve tanto adaptações na infraestrutura quanto a inclusão da educação climática no currículo, conectando o aprendizado à realidade local. Projetos de hortas, monitoramento do uso de água e energia e debates sobre desastres ambientais da região são exemplos práticos.
O guia “No Clima Certo” é resultado de uma de um estudo do Redes Cordiais e teve parceria da Embaixada do Reino Unido. O guia foi construído a partir de fontes reconhecidas como Observatório do Clima, INPE, Climainfo, Instituto Fala. A publicação integra o legado educacional da COP30, reforçando que o enfrentamento à crise climática começa pela informação.
Sobre o Redes Cordiais – Criado em 2018, o Redes Cordiais tem a missão de construir um ambiente digital mais saudável e confiável, estimulando comunidades comprometidas com diálogos democráticos em uma internet livre. A iniciativa aposta na educação midiática e nas habilidades necessárias para lidar de forma crítica e responsável com diferentes mídias, do jornal impresso aos aplicativos digitais, sempre valorizando o jornalismo de qualidade, o diálogo e a tolerância. Em sete anos de atuação, o projeto já engajou mais de 300 influenciadores, que somam 140 milhões de seguidores, publicou guias e e-books sobre desinformação e segurança digital e treinou milhares de jornalistas em temas como IA e saúde mental. O reconhecimento internacional veio com a citação no mapa da Unesco sobre educação midiática, que destacou o Redes Cordiais como uma das principais iniciativas brasileiras na área. Saiba mais em: www.redescordiais.org.br












