Especialista alerta que masculinidade tradicional ainda dificulta o autocuidado e o diagnóstico precoce de doenças físicas e mentais
Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

Encerrado o Novembro Azul, especialistas ressaltam que os desafios ligados à saúde emocional masculina permanecem e precisam de atenção contínua. Embora a campanha seja tradicionalmente voltada ao câncer de próstata, os dados mostram que os impactos emocionais têm peso decisivo na mortalidade dos homens. Informações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que eles vivem, em média, sete anos menos que as mulheres e estão entre os grupos que menos procuram apoio psicológico, mesmo diante de sinais evidentes de adoecimento mental.
Segundo o psicólogo Danilo Suassuna, doutor em Psicologia e diretor do Instituto Suassuna, o problema está profundamente ligado ao modelo tradicional de masculinidade. “Durante décadas, os homens foram ensinados a não expressar vulnerabilidade e a suportar dor e frustração sem buscar ajuda. Esse comportamento afeta não apenas as relações, mas a forma como lidam com o próprio corpo e a própria saúde. Muitos só procuram apoio quando a situação já se tornou insustentável”, afirma.
A OMS estima que os homens representem cerca de 75% dos suicídios no mundo, evidenciando o impacto da resistência ao cuidado emocional. No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) mostra que apenas 20% procuraram atendimento psicológico no último ano, enquanto entre as mulheres esse número chega a 43%. Estudos também indicam aumento da automedicação, do consumo de álcool e da evitação de conversas sobre sentimentos como estratégias comuns para lidar com sofrimento mental.
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Para Suassuna, a combinação entre pressão por produtividade, estigma e silêncio cria um ciclo de adoecimento. “A ideia de invulnerabilidade faz com que muitos neguem o que sentem. Quando o sofrimento se acumula — no trabalho, na família ou no próprio corpo — a reação mais comum é esconder, minimizar e enfrentar sozinho. Esse isolamento emocional alimenta quadros de ansiedade, depressão e estresse crônico”, explica.
O especialista aponta três barreiras que ainda afastam os homens do cuidado emocional: medo de julgamento, desconhecimento sobre o funcionamento da terapia e falta de referências masculinas que falem abertamente sobre saúde mental. Para ele, a prevenção precisa ser contínua e integrada à rotina. “É essencial criar espaços de escuta acolhedores e políticas públicas que tratem o cuidado emocional como parte natural da vida. Isso aproxima o homem do atendimento antes que ele chegue ao limite”, aponta.
A ampliação do acesso a serviços psicológicos é vista como fator central para reduzir o número de homens que chegam tardiamente aos sistemas de saúde. Iniciativas comunitárias, ações educativas e redes de cuidado têm contribuído para democratizar o atendimento, tornando-o mais acessível e descomplicado. Suassuna reforça que prevenção médica e emocional caminham juntas. “Um homem emocionalmente equilibrado procura consultas de rotina com mais facilidade, reconhece sinais de alerta e toma decisões preventivas com mais autonomia. Saúde é um conjunto de práticas que preservam a vida, não apenas a ausência de sintomas”, conclui.













