Especialistas alertam para expansão das facções e nova dinâmica do crime organizado

FONTE: Rádio Senado/Cesar Mendes

Pesquisador falou no Senado sobre a evolução do crime organizado no país desde o surgimento do PCC, nos anos 90, até os dias de hoje

Blog do Eloilton Cajuhy – BEC

CPI do Crime Organizado no Senado – Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

Bruno Paes Manso, jornalista investigativo e pequisador da USP, apresentou uma visão histórica da evolução do crime organizado no país, desde a criação de modelos próprios de negócio pelo tráfico de drogas, nos anos 90, no Rio e em São Paulo; passando pelo surgimento do PCC, o Primeiro Comando da Capital, em 1992, primeira das grandes facções criminosas; e chegando até o momento atual, com diversas facções atuando no território nacional.

“Em meados de 2005-2006, havia quatro facções no Brasil: Era Comando Vermelho; Terceiro Comando Puro; Amigos dos Amigos; e o PCC, em São Paulo. Hoje, são 90”.

Segundo Bruno, a implantação dos presídios federais, nos anos 2000, para punir os líderes das facções, interrompendo as cadeias de comando nos presídios, acabou por favorecer novos modelos de associação.

“Você começa a colocar os presos de diferentes estados conversando entre si; e começa a ter um tipo de conversa a partir de um modelo de negócio bem sucedido, que era o modelo das gangues prisionais do PCC, que começam a se espraiar por outros estados do Brasil”.

O pesquisador explicou que as facções estão hoje profundamente capilarizadas e que fazem uso intensivo de novas tecnologias, como criptomoedas, comunicação via satélite Starlink e fintechs; um cenário bem diferente dos anos 90, segundo ele.

“Hoje é uma cena de uma indústria nacionalizada, que tem acesso ao mercado internacional, que coloca novos desafios para as instituições”.

Renato Sérgio de Lima, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou uma inversão de tendências na criminalidade, com redução de 25% nas mortes violentas intencionais entre 2012 e 2024; e crescimento dos crimes da esfera privada, que incluem violência sexual, contra a mulher e contra crianças e adolescentes; e também dos crimes pela internet, sobretudo o estelionato pelo celular.

“Caiu os crimes de rua, mas um terço da população sofreu algum tipo de golpe com prejuízo financeiro; e sofreu um crime patrimonial tradicional só 22%. Então, aqui tem uma mudança de lente e enfoque que tem muito a ver com a dinâmica do crime organizado a partir do celular”.

O relator, senador Alessandro Vieira, do MDB de Sergipe, destacou o vínculo estreito das facções e milícias com o contrabando e o jogo do bicho; e o senador Fabiano Contarato, do PT do Espírito Santo, presidente do colegiado, disse que a complexidade do crime organizado exige que a CPI jogue luz também ao que ele chamou de “andar de cima”.

“Se você fizer uma retrospectiva, por exemplo, no Rio de Janeiro, cinco ex-governadores foram presos; envolvimento de membros do Tribunal de Contas do Estado, Poder Judiciário, Ministério Público, polícias; isso é um problema muito sério”.

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