Por Sergio Emmanoel Teixeira

Adoramos festas, amamos o periodo junino. São João brilha, acende todas as fagulhas das nossas sinapses cerebrais.
Reencontramos com nosso interior aconchegante calor de familiares que vencem distâncias. Reunidos, amigos de infância, gente que vem de longe em busca de si e do calor das emoções recônditas.
Lembranças e tradições centenárias mobilizam nosso fogo interior. E nos arrancam da rotina para incendiar de luzes nossas retinas.
O São João de Senhor do Bonfim não é mais assim. Bruxoleantes fogueiras perderam a luz, emitem sombras persecutórias que rondam esquinas e becos. As fogueiras projetam das suas chamas ardentes vultos dispostos em fila, portando armas de pimenta, balas de borracha, fuzis e gases lacrimogêneos. Em meio à alegria festiva pairam sombras vigilantes cavalgando em corcéis indóceis e em viaturas ligeiras.
A mão pesada do estado, com sirenes ligadas piscando luzes dissonantes, ferindo o som da zabumba infernizam os brincantes. É o São João sob Estado de Sítio! Uma alegria reprimida, ameaçando cidadãos, pondo em risco famílias pelo potencial descontrole das situações limite.
Sombras no São João! O santo do carneirinho deve estar muito triste com os espectros da opressão que ofende sua festa e seus visitantes. E a razão evapora na fumaça do tição. A agressividade do aparato repressivo é sublimado através do esforço de naturalizar o absurdo.
Tremenda contradição expõe o desarranjo da lei que quando devia proteger ameaça, pela força das armas do estado. Embota a antiga alegria, a espontaneidade se esvoaça, agride o bom senso e a justa medida na festa maior da cidade.