Morre MC Marcinho, o príncipe do funk por trás do hit ‘Glamurosa’, aos 45 anos

Artista vítima de problemas cardíacos representou a veia romântica do estilo e levou à nacionalização do gênero carioca.

Folha de S. Paulo

O músico MC Marcinho – Divulgação

O músico MC Marcinho, criador do hit “Glamurosa”, morreu neste sábado, aos 45 anos. A informação foi confirmada em nota pelo Hospital Copa d’Or, no Rio de Janeiro, que declara que o artista morreu em decorrência da falência de múltiplos órgãos. Ele estava internado desde o fim de junho por causa de um quadro de insuficiência cardíaca e renal.

Depois de internado, MC Marcinho sofreu uma parada cardíaca, que o deixou dependente de um coração artificial no mês passado. Uma infecção generalizada o levou a sair da fila do transplante do órgão, e desde então ele vinha respirando por ventilação mecânica e fazendo hemodiálise.

Quando estourou para o Brasil com o hit “Glamurosa”, em 2001, MC Marcinho já vinha de quase dez anos de funk. Sua voz médio-anasalada, seu jeito comedido e suas letras de doce romance davam a ele as credenciais que o sucesso nacional apenas sacramentou no início dos anos 2000. Uma aura marcada para sempre no seu epíteto —MC Marcinho, o príncipe do funk.

Sua estreia na música data de 30 anos atrás, quando ele tinha 16 anos. Foi ao encontrar sua amada com outro rapaz que, cabisbaixo, Marcinho resolveu escrever uma canção. Os amigos sugeriram que cantasse aquela letra sobre a base de Volt Mix —a pedra angular do funk do meio da década de 1990. Nascia seu primeiro sucesso, o “Rap do Solitário”.

Reprodução / Instagram

Nascido em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, Marcinho se enfiou no circuito de bailes da Baixada Fluminense com sua única música. Não tardou para que caísse nas graças do DJ Marlboro e do empresário Rômulo Costa. Ambos ocupavam posição de destaque nas engrenagens do funk carioca, no comando de festas, programas e discos. Coube a Marcinho abrir o compilado “Rap Brasil 3”, de 1995, com seu rap. Ganhou as rádios do Rio.

Nascido Márcio André Nepomuceno Garcia, em 1977, o jovem teve seu primeiro contato com música por intermédio do pai e do avô sambistas. Desse início e do gosto por cantores como Trinere e Tony Garcia veio sua forma de cantar —melodiosa, de vogais estendidas e solta nas divisões marcadas do funk. Sua caneta romântica também daria o tom em seu sucesso seguinte, “Princesa”, dedicada a seu par da época, a também MC Cacau.

A faixa pôs Marcinho no lugar de elo entre o freestyle e o Miami bass, músicas do caldo primordial do funk, e o futuro possível do gênero no pop —o chamado funk melody— no fim dos anos 1990. Fã de artistas precursores do funk como MC Galo e Danda & Tafarel, Marcinho passou a liderar a segunda geração de MCs cariocas. Os únicos com quem dividia os holofotes e a lírica adocicada eram Claudinho & Buchecha.

Da mesma forma que o duo, Marcinho era figura cativa dos programas de Xuxa, importante antena do funk carioca nos anos 1990 e 2000. De ídolo a amiga, a apresentadora virou musa para o MC na letra de “Glamurosa”, de 2001. Ela, a rainha do funk, a atriz Regina Casé, a poderosa, e a empresária funkeira Verônica Costa, a glamorosa, se misturam na ode do artista às mulheres dos bailes.

A ideia da canção surgiu quando Marcinho já havia desistido do funk. No início dos anos 2000, a ascensão dos bailes de corredor e o sucesso do funk de letras mais sensuais resultaram num choque do poder público em torno do gênero, incluindo a instauração de uma CPI estadual do funk. O artista trabalhava na administração de um hospital quando ligou para DJ Marlboro com sua aposta para voltar aos palcos, “Glamurosa”.

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