Filósofo diz que a falta de fé, não só na religião, é o responsável direto pelos problemas psicológicos nos tempos atuais

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Jennifer da Silva – Suporte MF Press Global

Segundo a concepção do filósofo e psicanalista luso-brasileiro Fabiano de Abreu, a falta de fé, a perda da capacidade de acreditar pode ter consequências graves no equilíbrio do ser humano. Fabiano acredita que a fé pode ser comparada a um extinto básico, algo que nasce conosco e que desempenha um papel crucial ao longo da nossa vida.

Primeiramente Abreu alarga o seu foco de pesquisa para nos introduzir no seu pensamento, para criar uma base.

“A idade contemporânea Inicia no século XVIII e, na concepção de alguns a idade pós-contemporânea começa após os anos 90 do extinto século XX. É exatamente aí que iniciamos um processo de transição e transformação que ainda está ativo. Eu, pessoalmente, prefiro utilizar a designação de idade pré-tecnológica. Ou seja, concebo o seu início mas ainda há um caminho a percorrer até atingirmos integralmente a idade tecnológica”, explica.

No entanto, Fabiano compreende que não tenha associado a fé em todo este raciocínio logo e garante que temos que nos aprofundar na nossa própria história enquanto humanidade e que apenas dessa forma conseguimos entender o seu conceito sobre o motivo de convidar a fé uma das principais causas da tristeza, solidão e em última instância, da depressão.

Segundo as palavras do filósofo: “Carregamos em nós nosso código genético ao nascer. O esfenóide é o ponto de partida da formação de todos os ossos; esponjoso como o nosso cérebro, ele encerraria a nossa impressão genética, a memória primitiva. O elo de ligação entre os instintos e o inconsciente que se encontra na mente em nosso cérebro”.

Fabiano tem noção e tenta transportar-nos para esse patamar em que a fé e o homem sempre estiveram em comunhão.

“Desde os primórdios que através das pinturas e da escrita, seja na Mesopotâmia, no Egito ou na Grécia, temos conhecimento que a fé estava presente. A fé, o ato de acreditar foi um motor de desenvolvimento, uma alavanca. Seja a fé num ou mais deuses ou a fé num ou noutro conceito mais ou menos abstrato, a fé em acreditar em algo concreto, a fé que serve de mote, de patamar seguro em que muitos se agarraram e continuam a agarrar para fazer a diferença e impulsionar o mundo até os dias de hoje”, observa.

A fé não é uma só e pode estar presente em muitas coisas. A fé pode ser depositada em nós, no outro, em algo superior ou mesmo na natureza. No entanto, o homem e a fé por vezes seguiram caminhos divergentes. O filósofo esclarece:

“Fé religiosa, fé em si mesmo, fé no outro, fé nos outros ou na natureza. A fé move sim montanhas. Essa frase de forma abstrata trás uma verdade na interpretação dita pelo grande sábio Jesus Cristo e nos torna pensadores da causa que nos fez desenvolver como ser humano.

O mundo tecnológico abriu outros mundos ao mundo. Possibilidades quase infinitas de comunicação, diversão, informação mas, no entanto representa também um trauma real do corte evolutivo. O que quero dizer com isso? O ser humano possuí uma idade cronológica para uma mudança adaptável. O homem tem que dar tempo ao seu próprio ritmo.

Um dos exemplos que gosto de usar é o do câncer. Como um corte na evolução dentro da idade cronológica pode ter sido um terreno fértil na propagação deste tipo de doenças. O câncer de pulmão por exemplo, é a não adaptação aos tempos de poluição e cigarro aos quais o nosso organismo não estava acostumado.

Assim como o câncer de mama que é a resposta por não termos mais filhos em idades mais jovens como aconteceu em grande parte da nossa história ou o câncer de estômago, que entre outros fatores, está relacionado à nova alimentação que implantamos em nosso cotidiano. Isso é a prova que não respeitar a nossa evolução dentro de uma idade cronológica, que ao encurtarmos o tempo, sofreremos sérios danos”.

Ou seja, quando o ser humano altera o seu ritmo biológico potencializa situações que não lhe são gratas.

“Assim como o mal do século que é a depressão sustentada na solidão e na tristeza. Uma potencializa a outra para chegar então em uma doença mental séria que pode encurtar o ciclo da vida”, refere Fabiano.

O filósofo acrescenta ainda o entendimento sobre a fé e os próprios mecanismos da nossa mente. Ou seja, todo esse processo genético conjugado com os outros fatores externos.

“Nós nascemos condicionados a ter fé, está impresso no nosso código genético, no nosso inconsciente que é a região da mente que não podemos alcançar e da qual não temos a consciência. Por isso existem os psicólogos e psicanalistas que tentam alcançar o inconsciente e buscar a cura da doença mental do paciente”.

“Estamos novamente a encurtar o período necessário para o nosso organismo evoluir a uma nova realidade. A tecnologia não só está a desacelerar o desenvolvimento da inteligência nos limitando em informações incompletas em meio a tanta informação, mas também está tirando um dos nossos instintos que é a fé”, esclarece o psicanalista.

Concluindo, Fabiano de Abreu enumera uma listagem do tipo de fé que o Homem carrega consigo e em si ao longo da sua vida e, também, a forma como cada uma delas se manifesta ou o condiciona.

“Que tipos de fé podemos ter e como as podemos perder?

Fé na religião – As informações nos últimos séculos fizeram com que cognitivamente não acreditássemos em muitas coisas que são ditas na Bíblia. Assim como a religião católica com os estudos de teologia derrubaram os muitos deuses que existiam por parecer algo impossível para mentes tão desenvolvidas. Ou porque simplesmente encontraram algo que supria melhor os seus objetivos.

Mais tarde os próprios preceitos dos católicos foram postos em causa. É como um ciclo. Mas em que vamos agora acreditar? Estamos condicionados a acreditar numa força maior. Se perdermos a fé em Deus, em quem acreditar? Nosso instinto manda ter uma referência. Qual referência teremos se os nossos ídolos em terra são falhos demais para nos apegarmos?

A internet, a mídia social, criou uma falsa sensação de poder onde nos tornamos ídolos de nós mesmos. E agora? Se não temos ídolos a não ser nós mesmos, em quem acreditar? Esse buraco, essa falha no inconsciente, sem preenchimento, causa danos e um deles é a solidão. Acreditamos tanto em nós mesmos e ao mesmo tempo sentimos falta de alguém para acreditar pois temos tanto conhecimento de nossas falhas que caímos em decepção. Decepção em nós, nos outros, na falta de referência.

A perca da fé na religião implica numa fé antiga, na da vida após a morte. Pensar em morrer e não ter para aonde ir depois, falha na razão de estar vivo. Para que batalhei tanto na vida se ao morrer tudo acaba. Essa falha é uma das que mais causam tristeza.

Fé no outro – A perda da palavra. Antes ter palavra e honra eram o que formava o ser. Hoje não ter palavra e (ou) honra é normal, afinal, poucos tem palavra e mentir tornou-se uma grande brincadeira. É o fim da importância do indivíduo onde o caráter já não é medido como referência como antes. O egoísmo faz parte do nosso instinto mas, fizemo-lo ultrapassar as barreiras e tornar-se membro do nosso cotidiano.

As pessoas estão mais egoístas pois a competição é maior assim como a necessidade de status. Muito culpa da mídia social onde todos brigam por mais likes. A prova disso é que a pessoa publica e espera que vejam e deem o like. Mas não quer dar likes à ninguém. Já há quem esteja até mesmo competindo com o próprio filho. Mas isso é um tema pro futuro próximo.

Fé em nós mesmos – Devia ser bom quando uma colheita ou uma caçada desse certo. Tínhamos uma meta, um objetivo e constantemente estávamos conquistando. E eram objetivos naturais de nosso instinto e não inventados. Nossas metas são dentro de uma realidade inventada por nós mesmos sem objetivos de satisfazer o instinto então, nossas conquistas são prazerosas de forma relâmpago e não instintiva.

Sem contar que nossas conquistas são pequenas pois os concorrentes logo conquistarão o mesmo e até mais. Perdemos a fé em nós mesmos pois nunca é o suficiente. Pois não estamos satisfazendo ao instinto, ao inconsciente e sim ao subconsciente e ao consciente.

Nas eras mais remotas as conquistas eram quase que uma rotina. Tínhamos conquistadores para admirar, ou nós éramos os conquistadores seja de regiões, das colheitas que deram certo ou de apenas se safar da morte.

Perdemos a fé em nós mesmos também pois não somos mais aplaudidos. Poucos comemoram o nosso sucesso e então, sempre achamos que não é o suficiente. Também perdemos a fé pois são muitas coisas a conquistar e isso cria a impressão de que nunca conquistamos por completo. Já sabemos que aquilo é só mais um de muitos e então nunca estamos satisfeitos.

Fé na natureza – Viemos da natureza, fazemos parte dela. Convivemos com ela na maior parte da nossa evolução como homo. Perdemos a fé na natureza pois não estamos mais em comunhão com ela. Estamos ou em cidades grandes de concreto ou em vilarejos em que a natureza são apenas campos de plantações. Se somos parte da natureza e não estamos com ela, então estamos desagradando nosso instinto e, com isso, há uma falta no inconsciente”, termina.

O homem por si só está condicionado à necessidade de acreditar, em si, no outro, em algo. Acreditar o faz avançar, batalhar, conquistar. A fé move. A fé é um motor. A fé é algo tão interligado ao ser humano que ao perdê-la se sente incompleto, por vezes vazio.

*Fabiano de Abreu é membro da Mensa, associação de pessoas mais inteligentes do mundo com sede na Inglaterra conseguindo alcançar o maior QI registrado com 99 de percentil o que equivale em numeral a um QI acima de 180. Especialista em estudos da mente humana, é membro e sócio da CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, com sede em Portugal e unidades no Brasil e em Holanda. É Psicanalista, filósofo e jornalista.

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