Da Rádio Câmara, de Brasília, Karla Alessandra
Em agosto de 2015, neuropediatras de hospitais públicos da capital pernambucana observaram um aumento do número de casos de microcefalia associados a anomalias cerebrais. Deste então, pesquisadores desconfiaram da incidência do zika vírus nesse aumento no número de casos.
Quatro anos depois, os pesquisadores já descobriram que a gravidade dos casos de microcefalia registrados no Nordeste tem relação com uma bactéria que se reproduz na água de nome saxitoxina e que a exposição à dengue associada à desnutrição tornou os casos mais severos.
Para ouvir alguns desses pesquisadores, a Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados, realizou audiência pública que contou também com a participação do Ministério da Saúde nesta segunda-feira (11).
O pesquisador em microbiologia celular Flávio Lara destacou que a gravidade dos casos de microcefalia no Nordeste foi resultado de uma junção de fatores que ainda não foram sanados e podem voltar a ocorrer naquela região.
“A saxitoxina provavelmente é um deles, restrição proteica também, a desnutrição. A ocorrência da dengue na região ser mais prevalente que nas outras regiões do país também foi um deles e os próximos passos da pesquisa é procurar por outros fatores ambientais evitáveis para a gente poder se preparar para uma possível futura epidemia de zika na região”.
O professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco Renato Molica lembrou que no Brasil apenas 52 por cento do esgoto são coletados e desse total somente 46 por cento são tratados, o que leva a condições ideais para a reprodução da saxitoxina, bactéria que não é retirada da água através do processo de tratamento atual.
A coordenadora geral de vigilância em saúde ambiental do Ministério da Saúde, Thais Cavendish, lembrou que já existe um protocolo de tratamento da água potável que é atualizado a cada cinco anos. Mas ela reconhece que os níveis de saneamento no Brasil ainda são muito baixos, dificultando esse controle.
Para o deputado Doutor Leonardo, do Solidariedade do Mato Grosso, a pesquisa demonstra que a situação é preocupante e por isso precisa ser discutida juntamente com a população. “Demonstrando a necessidade de mais recursos em pesquisa porque os recursos são finitos, são poucos e como aplicá-los com qualidade que realmente atenda o povo é através de pesquisa. Então, trazer para cá o Ministério, os pesquisadores para debater, para demonstrar o conhecimento, para divulgar isso e ampliar a discussão social, isso é papel da Câmara”.
Após quatro anos da epidemia de zika, o Brasil continua com índices de incidência de microcefalia acima dos níveis mundiais nas regiões Nordeste, Centro-oeste e Sudeste. Em 2018, a cidade de Belo Vale, em Minas Gerais, registrou 50 casos por 10 mil habitantes, enquanto no restante do mundo esse índice é de dois casos por 10 mil.