Músico lutava contra um câncer na medula. Melodia chegou a fazer um transplante de medula óssea e resistiu ao procedimento, mas não vinha respondendo bem à quimioterapia
O cantor, compositor e músico carioca Luiz Carlos dos Santos, o Luiz Melodia, morreu, na manhã desta sexta-feira (4), no Rio de Janeiro. Aos 66 anos, o cantor lutava contra um câncer que atacou a medula óssea. Ele morreu durante esta madrugada, por volta das 5h.
A informação foi confirmada ao colunista Mauro Ferreira, do G1, por Renato Piau, guitarrista que tocou com Melodia, após ligação para a família do artista. Melodia chegou a fazer um transplante de medula óssea e resistiu ao procedimento, mas não vinha respondendo bem à quimioterapia.
O compositor foi internado no dia 28 de março no Hospital Quinta D’Or, na Zona Norte, para fazer sessões de quimioterapia no combate a um mieloma múltiplo (tipo de câncer de sangue), diagnosticado meses antes. Segundo boletim médico divulgado na época pela produção do músico, com o início da quimioterapia, houve uma baixa glicêmica e acidez sanguínea. Por isso, o cantor permaneceu internado no CTI. O câncer voltou e o estado de saúde de Melodia se agravou bastante nesta quinta-feira (3).
“Muito triste acordar com uma notícia dessa. Essa semana morreram grandes. Morreu Guaraci do Violão, da Velha Guarda do Império. O Brasil do jeito que está, ainda perder um Luiz Melodia, é uma coisa muito ruim”, lamentou o amigo Zeca Pagodinho.
Abaixo, vídeo com um dos maiores sucessos de Luiz Melodia: “Juventude Transviada”.
https://youtu.be/t1SObvFUtVk
Luiz Melodia nasceu no Morro do São Carlos, no Estácio, Região Central do Rio. Sua ligação afetiva com o berço foi eternizada por ele em uma de suas mais célebres canções, “Estácio, Holly Estácio”, na qual determinava que “se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio”. O músico nasceu em 7 de janeiro de 1951 no Morro do Estácio, no Rio de Janeiro. Filho único, começou sua caminhada na música após ver seu pai tocando em casa. O menino Luiz Carlos dos Santos cresceu jogando bola na favela e dançando nas rodas com os músicos da escola de samba Estácio de Sá.
As irmãs dele gostavam quando chamavam o garoto de Melodia. Era o apelido do pai, Oswaldo, estivador e compositor. A família sonhava em ver o único filho homem formado numa faculdade. Mas a paixão pela música começou cedo, em casa. “A primeira influência que eu tive foi do meu pai, meu pai era um boêmio da época. E já compunha, já tocava. Os primeiros acordes aprendi com o meu pai. Quer dizer, a referência musical veio mesmo do Seu Oswaldo, Oswaldo Melodia”, disse o cantor e compositor em entrevista ao Bom Dia Rio.
Compositor de ‘Pérola Negera’ e outros grandes sucessos
O cantor abandonou o ginásio (atual ensino fundamental) e passou a adolescência compondo e tocando sucessos da Jovem Guarda e Bossa Nova, além de mergulhar no mundo do samba, o que gerou um estilo musical diferenciado e único do artista. Em 1972, os amigos poetas Wally Salomão e Torquato Neto levaram uma composição de Luiz Melodia para Gal Costa. Ela adorou, gravou e a música virou um sucesso. No palco, a música foi cantada ao lado de Cássia Eller. Ao Fantástico, Luiz Melodia recordou a composição. “Pérola Negra é uma mulher. Mas tinha composto pra uma menina que eu namorava na época em que estava servindo o Exército. A mulher brasileira é uma fonte, posso dizer assim, de inspiração em cinquenta por cento das minhas composições”, disse.
Na década de 1980, lançou diversos álbuns e fez apresentações em festivais na França e na Suíça. Em 2003, Luiz Melodia gravou um disco ao vivo com participações especiais de Zeca Pagodinho, Zezé Motta, Luciana Mello entre outros artistas.
Em 2017, Luiz Melodia lançou “Zerima”, seu último disco. O álbum veio após 13 anos sem o artista lançar uma faixa inédita e contou com participação da cantora Céu.
*Por Daniel Silveira, G1 Rio